domingo, 8 de setembro de 2013

Mundo da moda - A cela das anoréxas - Por que a magreza se tornou um padrão de beleza tão difundido no universo feminino?

Parte desse artigo já havia sido publicada em meu outro blog "Crisálida de Aço" com o título de "Mundo da Moda - A cela das anoréxas - como uma analise da morte da modelo Ana Carolina Reston morta em 2006 de anorexia nervosa.



Para não cometer nenhum ato de preconceito em relação ao mundo da moda, vou desmembrar este complexo ambiente em três vertentes.




  • O aspecto artístico: Quando o estilista usa sua criatividade para desenhar a roupa. Neste momento ele é o artista trabalhando uma vestimenta, é sua criatividade que o conduz.

  • O aspecto da vaidade, do fetiche: O observador se sente atraído por determinada peça criada pelo estilista. Se imagina usando aquela roupa, isso determina o seu potencial para comprá-la.
  • O aspecto econômico: É nítido que na sociedade capitalista em que vivemos o aspecto econômico suplanta os dois anteriores. Pois o estilista é, sobretudo um profissional e tem em mente vender seu produto, e assim se manter no mercado competitivo da moda. E não podemos deixar de notar que muitas celebridades usam determinadas marcas de estilistas famosos simplesmente por status, por se mostrar como é importante em sua área de atuação, seja um ator, um atleta, um cantor ou qualquer outro profissional de destaque midiático.

Analisando o mundo das modelos que são responsáveis por mostrar a obra do estilista, para seus clientes em potencial, notamos que há determinados padrões que estas ou estes profissionais devem se submeter para se manter no mercado de trabalho. 

A questão das modelos femininas magérrimas foi destaque nas manchetes do Brasil em muitos momentos. Um dos caso mais comoventes de uma modelo morta vitima de anorexia foi, creio eu, da modelo brasileira “Ana Carolina Reston" de 21 anos morreu em 2006 vitimada por uma anorexia nervosa que obviamente foi “contraída” pela necessidade de se manter dentro deste padrão instituído pelo mundo da moda. É estranho ver estas belas modelos se sacrificarem fisicamente para se manter neste mundo de glamour.

A moda se torna prejudicial neste momento, quando um rígido padrão determina a vida de uma profissional. É um tipo de ditadura da beleza em um mundo onde o "magro é belo", o magro é exemplo do que se deve ser atingido, mas não condiz com o mundo lá fora. Até que ponto a magreza deve determinar a vida de um profissional? Este rígido padrão me fez refletir sobre os campos de concentração do nazismo, onde imagens de pessoas esqueléticas nos fazem sentir ódio do sistema que causou aquilo. Poxa! São casos muito diferentes, porém vemos um sistema semelhante que conduz alguém para um problema análogo, que é a magreza extrema que se torna doença. Mesmo que de forma voluntária estas jovens se direcionam para uma magreza mórbida que pode acabar com sua vida. O sistema em que elas estão inseridas não as permite fazer diferente. Estas meninas um dia sonharam com isto, lutaram para chegar onde estão, e obviamente lutarão duro para se manterem neste mundo que conquistaram a duras penas. É uma prisão psicológica de onde elas não veem o mundo aqui fora , fora da moda, fora da mídia. Não veem "gordinhos" alegres que não dão a mínima para o que acham a respeito do que eles vestem ou deixam de vestir, não veem pessoas que se sentem felizes com um belo moicano na cabeça e um colete de couro. É um mundo que não vislumbram por estarem encarceradas dentro de suas celas glamorosas. Eu quis ser brando, me desculpe se ofendi alguém, mas não posso negligenciar este paradoxo social. Eu amo a arte, entretanto não consigo ser conivente com padrões que levam uma pessoa à morte.

Mas quando surgiu esse padrão de beleza atual de extrema magreza?



Quem já assistiu ou mesmo viu alguma foto da atriz Marilyn Monroe, que era o maior símbolo sexual de sua época notou que suas formas não eram nem um pouco parecida com as magricelas de hoje. Estamos falando da década de 50. O que aconteceu desde então? Para analisarmos, devemos recuar um pouco mais além na história e nos perguntar, por que aquelas mulheres retratadas nos quadros renascentista hoje seriam banidas das agencias de modelos enquanto em seu tempo eram as mais belas modelos escolhida por esses pintores? 

Estas gordinhas do renascentismo representam o papel feminino da maternidade que vinha desde a antiguidade sendo usada como a maior virtude feminina. A representação feminina mais antiga já encontrada trata-se de uma pequena peça artística de cerca de 11 cm de altura confeccionada cerca de 23.000 anos atrás e mostra uma mulher gordinha de seios fartos. Pesquisadores especulam que seja apenas uma representação da fertilidade, poderia ser usada como um tipo de amuleto para esse fim. Foi batizada de “Vênus de Willendorff, e depois muitas outras estatuetas desse modelo foram encontradas. Portanto a mulher de quadril farto e formas arredondadas era um sinal de fertilidade. 

Vênus de Willendorf

O Filosofo francês Gilles Lipovetsky (autor do livro "O Império do Efêmero") afirma que a magreza como modelo de beleza foi um elemento libertador para a mulher contemporânea vindo de encontro com todas as conquista que as mulheres obtiveram nas ultimas décadas. Libertador pelo fato de a mulher não mais estar aprisionada ao papel de mãe. A maternidade se tornou para a mulher contemporânea algo opcional. Por isso a padrão de magreza foi tão largamente difundido em tão pouco tempo. Dessa forma quando as mulheres enfim se libertam de um papel milenar atribuído elas – a maternidade – ficaram a mercê de outra forma de aprisionamento - a magreza. E assim os estilistas contam hoje com verdadeiros cabides humanos onde colocam suas criações para serem vendidas.




André Stanley 

André Stanley é professor e escritor; autor do livro “O Cadáver”; presidiu o Centro acadêmico do curso de História no UNIFEG em 2007, é membro efetivo da Ass. Dos Historiadores e pesquisadores dos Sertões do Jacuhy desde 2004. Atua hoje como professor e pesquisador de História. Também leciona língua inglesa idioma que domina desde a adolescência..




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