terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Religião: Remédio que pode se tornar veneno.



Apesar de não crer em nenhuma divindade e não ser praticante de nenhuma religião, nunca fui radicalmente contra as religiões. Tenho muitos amigos e amigas religiosos dos quais estimo muito e, essa estima é verdadeira, não é apenas um agrado para manter a amizade. Tanto é que quando um escândalo ou uma inconsistência envolvendo algum religioso ou mesmo alguma instituição religiosa ocorre, não sou econômico nas minhas criticas e procuro falar sobre elas em bom tom, e evito ofende-los com colocações dogmáticas. Sei que as religiões têm papel muito importante nas vidas psicológicas das pessoas, sendo em alguns casos fator preponderante, onde funciona como único elemento a manter certa sanidade a alguns indivíduos.
"A religião pode ser um elemento 
muito confortante e 
consolador na hora de uma 
peleja emocional muito forte....


Tive uma experiência familiar muito pertinente a esse respeito quando um sobrinho meu que se envolveu com drogas e somente encontrou alento e condição de continuar vivendo socialmente por conta de uma instituição religiosa da qual sou eternamente grato. Portanto sou um cético que acredita piamente na afirmação “O melhor remédio contra o abuso de drogas é Jesus”. Não me sinto constrangido como um cientista social dizendo isso. E também nunca fui simpático a certos movimentos neo-ateus que surgiram a rodo por ai nos últimos anos, não creio que o ateísmo seja algo a ser organizado, isso seria uma contra-religião, ou seja, uma religião para combater outras tantas historicamente construídas.

A religião pode ser um elemento muito confortante e consolador na hora de uma peleja emocional muito forte, como a perda de um ente querido ou na perda da motivação para viver e em diversos transtornos que o ser humano pode sofrer. A religião tem o poder de socorrer uma pessoa desesperada dando a ala uma sobrevida que de outra forma ela não conseguiria. A religião é uma terapia que se bem utilizada e por pessoas inteligentes pode surtir em verdadeiros “milagres.”

Portanto quando a religião se presta a dar conforto emocional a uma pessoa que a busca isso, acho louvável, pois conforto psicológico hoje em dia é raro e talvez por isso o número de religiões evangélicas vem crescendo tanto no Brasil.

O problema é quando essas instituições começam a impor seus dogmas como um procedimento padrão que deve ser executado ou a ira divina será implacável. Não vejo problema em você acreditar em Deus e ser caridoso com uma pessoa necessitada. Agora proibir uma família de permitir que seu filho anêmico passe por uma transfusão de sangue baseados em preceitos bíblicos, como testemunhei acontecer com testemunhas de Jeová, é de uma inconseqüência monstruosa. Não é mais do campo religioso, é um crime hediondo de omissão de socorro.

Como alguém em sã consciência pode usar algo tão poderoso quanto uma religião para dissipar a morte? Parece uma pergunta desesperada de uma pessoa assustada demais com a maldade humana, mas estou ciente que a religião, a exemplo de um potente transporte coletivo pode ser maravilhosa para diversas pessoas que não possuem meios para se deslocarem de sua casa ao trabalho e precisam dessa alternativa, mas se você da um ônibus nas mãos de um grande condutor de carruagens algo muito perigoso pode acontecer.

A religião é o remédio que pode ser transformado em veneno nas mãos de pessoas que ignoram a dosagem necessária para cada tipo de pessoa que lhes prestam ajudar.

"Não questiono a importância 
da religião na vida das pessoas, 
o que me preocupa é a possibilidade 
delas se tornarem uma medida 
de moralidade a ser seguida"


Nunca encontraremos a salvação da humanidade nas mãos de nenhuma religião. Criamos as religiões por sermos fracos demais para suportarmos nossa sombra. O ser humano é um ser sombrio. Não somente por ter uma índole notoriamente selvagem e egoísta, mas por possuir grande parte de sua vida psicológica escondida em um abismo aonde a luz nunca chega a iluminar. Somos misteriosos. Não sabemos quem somos se, somos bons ou ruins. Sabemos, no entanto, que seguindo uma cartilha religiosa qualquer nos sentiremos mais seguros por trilhar um caminho já delineado por outros na mesma situação que nós. Mesmo que para isso paguemos o preço da ignorância e abdiquemos da maior virtude humana que é a capacidade de questionar sua existência.


Não questiono a importância da religião na vida das pessoas, o que me preocupa é a possibilidade delas se tornarem uma medida de moralidade a ser seguida. Imagine em uma sociedade ainda metafórica, a quantidade de pessoas que morreriam por não serem submetidas a uma simples transfusão sanguínea, o aumento considerável de ocorrência de doenças sexualmente transmissíveis pela proibição do uso da camisinha ou quantas famílias seriam desfeitas por conta de discordâncias religiosas. Não vislumbro tal cenário para o Brasil, mas os lideres religiosos hiper-conservadores precisam sim ser responsabilizados pelos crimes que eventualmente cometem em nome de suas diretrizes.


André Stanley
André Stanley alcunha de André Luiz Ribeiro é professor e escritor; autor do livro “O Cadáver” (Editora Multifoco – 2013); presidiu o Centro acadêmico do curso de História no UNIFEG em 2007, é membro efetivo da Ass. Dos Historiadores e pesquisadores dos Sertões do Jacuhy desde 2004. Atua hoje como professor e pesquisador de História Cultural. Também leciona língua inglesa, idioma que domina desde a adolescência.

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