domingo, 15 de fevereiro de 2015

André Stanley analisa sua própria obra "O Cadáver".



Esta é uma obra literária que busca resgatar através dos devaneios de seu protagonista a essência do ideal Romântico do século XIX. Um estudante de medicina se encontra apaixonado por um cadáver o qual dissecava na mesa de um necrotério.
Esse narrador-personagem nos faz entrar em uma atmosfera totalmente emotiva que nos remete as obras românticas do século XIX. Com uma grande influencia de Álvares de Azevedo que via na morte uma forma de alcançar a própria vida, essa obra chega às profundezas do indivíduo, porque como no ideal romântico, a vida não era uma epopeia reta com destino a gloria, mas sim uma sinfonia intrincada cheia de momentos fortes e sublimes, intercalados com uma angustia inerente e inevitável.

Foi após o romantismo que ganhamos mais liberdade de expressão, maior autonomia artística e a possibilidade de usar a imaginação como fator criativo.
A obra que apresentamos aqui se trata exatamente de um hibrido de literatura moderna e contemporânea que usa toda a subjetividade do romantismo dentro de um mundo moderno e tecnológico, onde é permitido contrastar a saudade da vida no campo nos moldes de Gonçalves dias com a modernidade e todas as suas implicações sociais.

 Para este propósito abordamos um breve percurso histórico do Romantismo como uma critica a sociedade racionalista, que segundo Michael Lowy perdura até hoje como ideal revolucionário no combate ao: 1) Desencantamento do mundo, com uma visão cada vez mais cientista e racional. 2) A quantificação do mundo, fator que reduziu tudo a números e estatísticas. 3) A mecanização do mundo, que passa a ser cada vez mais dominada pela máquina. Dentre outras coisas.
A figura idealizada da mulher representada pelo cadáver que apesar de poder ser tocado e até dilacerado permanece distante pela impossibilidade de possuí-lo. A mulher na visão do romântico era um ser angelical, inatingível. Uma figura que de tão idealizada perdeu de vez sua concretude, tornando-se um ser etéreo e colocado em um patamar quase divino. Era essa impossibilidade de ter a mulher amada que geraram grandes obras literárias nos tempos áureos do romantismo. Pois é na tristeza provocado pelo “não ter” que o homem descobre que a vida não é racional.

Este trabalho que apesar de não ter um elemento critico vigoroso como seria de se esperar de uma obra que usa elementos do movimento romântico, critica exatamente a perda de controle do individuo em relação a seus sentimentos mais profundos, contrastando com a eminência de um mundo cada vez mais lógico e pragmático onde a visão romântica se torna insuportável. Não creio que nosso objetivo como seres modernos, seja nos desvencilhar completamente dessa forma de ver o mundo, mas sim se utilizar disso para continuar caminhado com nossas próprias cores em meio a névoa cinza que nos cerca.

André Stanley alcunha de André Luiz Ribeiro é professor e escritor; autor do livro “O Cadáver” (Editora Multifoco – 2013); presidiu o Centro acadêmico do curso de História no UNIFEG em 2007, é membro efetivo da Asso. Dos Historiadores e pesquisadores dos Sertões do Jacuhy desde 2004. Atua hoje como professor e pesquisador de História Cultural. Também leciona língua inglesa, idioma que domina desde a adolescência, Escreve para o Blog do André Stanley, sobre assuntos diversos.

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