Créditos: Imagem extraída do google imagens |
A "Aculturação" se tornou um termo muito utilizado na
antropologia e na sociologia, mas também muito recorrente em história,
principalmente quando se trata do período colonial, onde temos geralmente uma
cultura subjugada por uma cultura dominante. No entanto, seria muito simplista
dizer que a aculturação diz respeito apenas a esta forma de dominação. Falar de
aculturação em história chega a ser quase uma intervenção filosófica, tamanha a
complexidade léxica desse conceito. O termo aculturação tem a função de
conceituar o processo resultante do contato entre duas ou mais culturas. No
entanto, esse processo nunca segue uma regra geral, ou seja, não há um conceito
de aculturação que se encerra em si mesmo.
Os primeiros estudos de aculturação tinham em voga o período colonial e havia uma conotação evolutiva nesse termo, ou seja, esboçava a ideia de uma supremacia da cultura européia. Sendo que o adjetivo “aculturado” significava claramente “evoluído” evocando a ideia de que o processo de aculturação correspondia a um progresso da sociedade dirigindo-se a um modelo ocidental. Essa noção de aculturação está evidentemente superada. Como observa Nathan Wachtel:
Natan Wchtel - imagem divulgação |
Os primeiros estudos de aculturação tinham em voga o período colonial e havia uma conotação evolutiva nesse termo, ou seja, esboçava a ideia de uma supremacia da cultura européia. Sendo que o adjetivo “aculturado” significava claramente “evoluído” evocando a ideia de que o processo de aculturação correspondia a um progresso da sociedade dirigindo-se a um modelo ocidental. Essa noção de aculturação está evidentemente superada. Como observa Nathan Wachtel:
Com
efeito, a aculturação não se reduz a uma única marcha, à simples passagem da
cultura indígena à cultura ocidental; existe um processo inverso, pelo qual a
cultura indígena integra os elementos europeus sem perder suas características originais.
Essa dupla polaridade confirma que a aculturação não pode ser reduzida à
difusão, no espaço e no tempo, de traços culturais arbitrariamente isolados:
trata-se de um fenômeno global que compromete toda a sociedade. (WACHTEL, 1976 ,p 114)
Ainda
que a noção - nos dizeres de Nathan Wachtel
- “conserve de sua origem
colonial duas características complementares: uma interna, a heterogeneidade
das culturas em presença, outra externa, a dominação de uma pela
outra.”(WACHTEL 1976, p. 114). Wachtel ainda sugere que essas duas noções devem
ser consideradas e deve ser aplicada na pesquisa sobre aculturação para depois termos
elementos nos quais possamos fazer alguma generalização, no entanto, o próprio
autor desmistifica tal abordagem dizendo que:
Mesmo
se limitarmos a aculturação ao campo restrito da situação colonial, a extrema
complexidade de processos e resultados parece, contudo, desafiar toda tentativa
de generalização: nada mais arbitrário que isolar uma seqüência ou uma evolução
que é declarada válida para todos os casos. Tantos quanto forem os exemplos
concretos, tantas serão as aculturações diferentes. (WACHTEL, 1976, p. 114)
Sendo assim para cada abordagem
sobre aculturação, um método deve ser utilizado caso não haja nenhum modelo na
literatura, deve-se realmente criar uma metodologia. Wachtel estudou a fundo a dominação espanhola na América e para ele a aculturação
pode ser imposta, ou espontânea. A primeira é quando a dominação estrangeira se
dá de forma completa, no campo político, econômico e religioso, esse sistema é
baseado na violência. A cultura dominante se impõe em detrimento da cultura
dominada. Já a aculturação espontânea
ocorre através de contatos comercias e pacíficos.
Ainda
considerando os diversos fenômenos de aculturação, podemos distinguir uma outra
divisão no seu processo. Trata-se – ainda usando Wachtel – da “integração” e no pólo oposto a “assimilação”: “No processo de
integração os modos de uma cultura estrangeira são incorporados pela cultura
dominada, que por sua vez modela esses elementos de acordos com seus próprios
meios de vida. Wachtel nos dá um exemplo ao abordar a dominação espanhola da
America:
Os
elementos estranhos são incorporados ao sistema indígena que os submete a seus
próprios esquemas e categorias; e mesmo se provocam mudanças no conjunto da
sociedade, essa reorganização adquire sentido no interior dos modelos e valores
autóctones ... Os navajos representam o caso clássico de uma sociedade constantemente
enriquecida por contribuições exteriores, livremente selecionadas;
originalmente caçadores –coletores e seminômades, receberam de seu contato com
os pueblos determinados elementos de agricultura que favoreceram uma relativa
estabilização de seu habitat (exemplo original de aculturação entre sociedades indígenas,
mas de tipos diferentes). ( WACHTEL,
1976, p. 118)
Já no processo de assimilação ocorre
o inverso, os elementos da cultura dominante substituem os elementos
tradicionais dos seus dominados, por exemplo:
A
adoção de elementos europeus se acompanha da eliminação das tradições
indígenas, submetendo-se aos modelos e aos valores da sociedade dominante; ao
final dessa evolução, a identidade étnica se dissolve nas variantes da cultura
ocidental. (WACHTEL, 1976, p. 118)
Mas,
o complexo de elementos contidos no tema, aculturação não param por aí. Entre
assimilação e integração podem ser identificados outros tipos intermediários de
aculturação. “É o caso de diversos
sincretismos, combinações de elementos saídos de culturas diferentes, mas que
dão lugar a um novo sistema ordenado segundo princípios distintos daqueles que
regiam os sistemas de origem. No entanto não podemos pensar que esses
diversos elementos de aculturação: integração, assimilação, sincretismo,
disjunção, etc, são processos únicos de uma determinada sociedade, muitas vezes
são processos que se alternam dentro de uma mesma sociedade. A estabilidade
cultural dentro de uma sociedade que sofreu algum tipo de aculturação não
segue, entretanto, uma lei linear que vai da integração á assimilação passando
necessariamente por suas intermediárias, tudo depende de suas raízes
intrínsecas, ou seja, cada sociedade ou sistema cultural definirá o que
introduzir, assimilar ou rejeitar.
Temos condições nesse momento de definir
alguns pontos conclusivos para o uso do conceito de aculturação em uma pesquisa sobre história.
Primeiro, comparar os elementos pertinentes ao objetivo da pesquisa, com a
noção de colonialismo nos termos de Nathan Wachtel – cultura dominante, cultura
dominada. Segundo, identificar através da bibliografia especializada - mesmo
que seja na área de sociologia - o processo pelo qual a aculturação se dá - de
forma espontânea, ou imposta. Terceiro, como é concretizada a aculturação, ou
seja, como é feita a assimilação ou integração de novos elementos culturais na
sociedade pesquisada, como são abandonados os elementos tradicionais dessa
sociedade - para essa etapa da pesquisa
acho importante a utilização de fontes orais, já que são os membros dessa
sociedade que participaram e participam do processo descrito. Quarto, já que se
trata de uma aculturação contemporânea, onde quem vive esse processo é minha
própria geração, é necessário inserir esses elementos dentro da ótica da
modernidade, onde não será possível fugir á termos como, globalização,
modernização, multiculturalismo dentre outros.
Fontes:
André Stanley é escritor e professor de História, Inglês e Espanhol, autor do livro "O Cadáver", editor dos blogs: (Blog do André Stanley, Stanley Personal Teacher). Colaborador do site especializado em Heavy Metal Whiplash. Foi um dos membros fundadores da banda de Heavy Metal mineira Seven Keys. Também é fotógrafo e artista digital.
Fontes:
- Natan Wachtel - História e Antropologia de uma America "subterrânea". Disponível em: PDF http://www.scielo.br/pdf/sant/v4n1/2238-3875-sant-04-01-0259.pdf. Acesso em 25 de dezembro de 2017.
- WACHTEL, Nathan. A aculturação. In: História: novos problemas. Direção de Jacques Le Goff e Pierre Nora, tradução de Theo Santiago. Rio de Janeiro: F. Alves, 1976.
André Stanley é escritor e professor de História, Inglês e Espanhol, autor do livro "O Cadáver", editor dos blogs: (Blog do André Stanley, Stanley Personal Teacher). Colaborador do site especializado em Heavy Metal Whiplash. Foi um dos membros fundadores da banda de Heavy Metal mineira Seven Keys. Também é fotógrafo e artista digital.
Nenhum comentário:
Postar um comentário