Ficha técnica:
Título: A Visita Cruel do Tempo
Autor (a): Jennifer Egan
Editora: Intrinseca
País de origem: EUA
Título original: A Visit from the Goon Squad
Lançado no Brasil: 2012
Gênero: Romance Americano/Ficção
Gênero: Romance Americano/Ficção
A Visita Cruel do Tempo é uma obra que esbanja pós-modernidade, tanto na
história que é contemporânea quanto na forma de escrever. A norte americana
Jennifer Egan cria um set de personagens que não vivem diretamente uma mesma
história, mas que sempre em algum momento de suas vidas entram em contato e
dividem o mesmo espaço e tempo. Trata-se de uma série de contos independentes
que, no entanto, estão em total sintonia uns com os outros. A autora utiliza
uma série de formas narrativas, hora em primeira pessoa, hora em terceira
pessoa dependendo da personagem. Ela narra acontecimentos ocorridos dentro de
um período de 50 anos. Mas é o leitor que deve se orientar e tentar entender em
que época cada um deles está vivendo. E ela não omite informações para nos
guiar.
Em um conto/capitulo inteiro Egan se utiliza de gráficos criados no
“Power Point” que na história foram feitos por uma personagem infantil para
explicar de forma simplista um momento chave da vida de Sasha Blake, mãe da
criança, que é protagonista de um dos contos do livro. A garota faz uma
apresentação de slides explicando como sua família se relaciona e como seu
irmão Lincoln que sofre de autismo é fascinado por pausas de músicas de Rock n’
rol. Egan usa uma ferramenta tecnológica moderna para expor sua história ao
leitor. Trata-se de uma estratégia narrativa inovadora.
Esse romance desafia o leitor a construir a história em sua memória
através de fragmentos perdidos no tempo vivido por pessoas diferentes que
eventualmente se encontram. Por isso uma única leitura pode não ser suficiente.
Esse livro merece uma reflexão mais ampla e uma maior dedicação. Jennifer Egan
o conduz por uma série de pontos de vistas e de historietas subjetivas para que
o leitor consiga adicionar sua própria reflexão sobre a crueldade do
tempo. São personagens extremamente humanos que passaram por desilusões
amorosas, problemas com drogas, obsessões compulsivas e perdas.
Ou seja, na falta de um personagem central na história, o tempo se torna
o grande protagonista. Pois o tempo é soberano e não há uma só personagem desse
livro que não esteja sofrendo pela ação dele. Como o produtor musical que
começou sua carreira como baixista de uma banda punk que não prosperou e sua
secretária cleptomaníaca que certa vez fugiu para a Europa em busca de aventuras
e foi resgatada pelo seu tio pilantra. Um romance que foge ao convencionalismo
do romance americano atual, que no entanto, se utiliza de vários elementos da
cultura pop americana, como bandas punk tentando seu lugar ao sol na década de
1970, roqueiros decaídos tentando reviver suas carreiras em um momento onde a
indústria da música passa por um momento crítico. Um dos contos nos leva aos
bastidores dessa indústria e sua relação com o jornalismo contemporâneo, que
tem total responsabilidade pela construção de celebridades rentáveis.
Se podemos fazer um paralelo dessa obra com alguma outra, eu diria que
na forma ele se aproxima do livro “A Festa” do escritor brasileiro Ivan Ângelo
que se utiliza de fragmentos narrativos diversos para chegar a construir um
romance completo. Mas essa comparação termina aqui, pois as personagens de Egan
são muito profundas e sofrem as metamorfoses causadas pelo tempo.
Diferentemente das personagens de “A Festa” que são todas caricatas de pouca ou
nenhuma profundidade. E se a obra de Ivan Ângelo é fruto do momento político em
que o autor vivia – Ditadura Militar no Brasil. O Livro de Jennifer Egan é
fruto de sua própria reflexão sobre o tempo. A crítica de Jennifer Egan aparece
vez ou outra quando deixa claro que a indústria musical é uma convenção de
cafajestes, ou quando critica através de um dos contos a hipocrisia da mídia
americana e os profissionais que trabalham nos bastidores para criar uma imagem
generosa de fascistas autoritários.
“A visita cruel do tempo” não é um romance convencional. Brinca com o
tempo cronológico e psicológico das personagens e a autora ainda ousa viajar à
um futuro próximo, algum ano da década de 2020, quando as pessoas se encontram
aficionadas por aparelhos de comunicação instantânea. De certa forma ela descobre
um novo rumo para a indústria fonográfica que terá profissionais trabalhando, outra
vez nos bastidores, para que um artista totalmente desconhecido se torne uma
celebridade instantânea. É só uma questão de investimento.
EGAN, Jennifer. A Visita
Cruel do Tempo. Editora Intrínseca. Rio de Janeiro, 2012.Tradução de Fernanda
Abreu.
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