Esta é uma obra
literária que busca resgatar através dos devaneios de seu protagonista a
essência do ideal Romântico do século XIX. Um estudante de medicina se encontra apaixonado por um cadáver o qual
dissecava na mesa de um necrotério.
Esse narrador-personagem
nos faz entrar em uma atmosfera totalmente emotiva que nos remete as obras
românticas do século XIX. Com uma grande influencia de Álvares de Azevedo que
via na morte uma forma de alcançar a própria vida, essa obra chega às
profundezas do indivíduo, porque como no ideal romântico, a vida não era uma
epopeia reta com destino a gloria, mas sim uma sinfonia intrincada cheia de
momentos fortes e sublimes, intercalados com uma angustia inerente e
inevitável.
Foi após o
romantismo que ganhamos mais liberdade de expressão, maior autonomia artística
e a possibilidade de usar a imaginação como fator criativo.
A obra que apresentamos
aqui se trata exatamente de um hibrido de literatura moderna e contemporânea
que usa toda a subjetividade do romantismo dentro de um mundo moderno e
tecnológico, onde é permitido contrastar a saudade da vida no campo nos moldes
de Gonçalves dias com a modernidade e todas as suas implicações sociais.
Para este
propósito abordamos um breve percurso histórico do Romantismo como uma critica
a sociedade racionalista, que segundo Michael Lowy perdura até hoje como ideal
revolucionário no combate ao: 1) Desencantamento do mundo, com uma visão cada
vez mais cientista e racional. 2) A quantificação do mundo, fator que reduziu
tudo a números e estatísticas. 3) A mecanização do mundo, que passa a ser cada
vez mais dominada pela máquina. Dentre outras coisas.
A figura
idealizada da mulher representada pelo cadáver que apesar de poder ser tocado e
até dilacerado permanece distante pela impossibilidade de possuí-lo. A mulher na visão do romântico era um ser angelical, inatingível.
Uma figura que de tão idealizada perdeu de vez sua concretude, tornando-se um
ser etéreo e colocado em um patamar quase divino. Era essa impossibilidade de
ter a mulher amada que geraram grandes obras literárias nos tempos áureos do
romantismo. Pois é na tristeza provocado pelo “não ter” que o homem descobre
que a vida não é racional.
Este
trabalho que apesar de não ter um elemento critico vigoroso como seria de se
esperar de uma obra que usa elementos do movimento romântico, critica
exatamente a perda de controle do individuo em relação a seus sentimentos mais
profundos, contrastando com a eminência de um mundo cada vez mais lógico e
pragmático onde a visão romântica se torna insuportável. Não creio que nosso
objetivo como seres modernos, seja nos desvencilhar completamente dessa forma
de ver o mundo, mas sim se utilizar disso para continuar caminhado com nossas
próprias cores em meio a névoa cinza que nos cerca.
André Stanley alcunha de André Luiz Ribeiro é professor e escritor; autor do livro “O Cadáver” (Editora Multifoco – 2013); presidiu o Centro acadêmico do curso de História no UNIFEG em 2007, é membro efetivo da Asso. Dos Historiadores e pesquisadores dos Sertões do Jacuhy desde 2004. Atua hoje como professor e pesquisador de História Cultural. Também leciona língua inglesa, idioma que domina desde a adolescência, Escreve para o Blog do André Stanley, sobre assuntos diversos.
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