domingo, 15 de fevereiro de 2015

O Cadáver: Obra resgata o romantismo sem deixar de ser moderna.





Ficha técnica:
Título: O Cadáver
Autor (a): André Stanley
Editora: Multifoco
País de origem: Brasil
Lançado no Brasil: 2013
Gênero: Romance Brasileiro/Ficção


Um estudante de medicina se vê envolto em uma nuvem de confusão mental quando se encontra apaixonado por um cadáver o qual dissecava na mesa de um necrotério. Sua peleja mental chega muito próximo da tênue barreira que separa paixão e loucura. Sua cabeça é inundada de reminiscências de sua vida passada que o leva a indagar aspectos filosóficos como os loucos e poetas as vezes o fazem.O protagonista narra suas memórias e pequenas aberrações psicológicas ele próprio, como se o leitor ouvisse em primeira mão ele a lhe explicar aspectos da intimidade de sua alma.


Relacionamentos do passado voltam a assombrá-lo, como demônios que precisam ser exorcizados. Uma história simples de alguém que se perde em meio a tantas lembranças. A história de uma pessoa comum que inocentemente é levada pelos mecanismos inatos da psicologia humana a um mundo que de tão subjetivo parece uma queda livre rumo a um inferno dantesco. 

A obra em questão possui um elemento muito corriqueiro na literatura ultra-romântica de Alvares de Azevedo, que é a figura idealizada da mulher representada pelo cadáver que apesar de poder ser tocado e até dilacerado permanece distante pela impossibilidade de possuí-lo. A mulher na visão do romântico era um ser angelical, inatingível. Uma figura que de tão idealizada perdeu de vez sua concretude, tornando-se um ser etéreo e colocado em um patamar quase divino. Era essa impossibilidade de ter a mulher amada que geraram grandes obras literárias nos tempos áureos do romantismo. Pois é na tristeza provocado pelo “não ter” que o homem descobre que a vida não é racional.
Leia.

"Como é difícil encarar a morte...  assim,  crua,  encima daquela mesa. Nua, endurecida e gélida, porém ainda bela. Uma bela mulher, uma jovem que obviamente não havia vivido o bastante para se ver madura. Tinha talvez, 23 ou 24 anos, não mais. Cabelos pretos, muito limpos e belos, era certamente uma mulher requintada. Pele alva já escurecida pelo tempo do óbito. No seu braço direito chamava a atenção uma tatuagem, demonstrava que era uma mulher de caráter forte, dona de seu próprio nariz. Não havia ainda mirado seu rosto. Era algo inconsciente, temia sentir algo de humano naquele cadáver. Isso certamente dificultaria meu trabalho. Era a primeira autopsia que participava, e não queria demonstrar isso para os instrutores."


André Stanley alcunha de André Luiz Ribeiro é professor e escritor; autor do livro “O Cadáver” (Editora Multifoco – 2013); presidiu o Centro acadêmico do curso de História no UNIFEG em 2007, é membro efetivo da Asso. Dos Historiadores e pesquisadores dos Sertões do Jacuhy desde 2004. Atua hoje como professor e pesquisador de História Cultural. Também leciona língua inglesa, idioma que domina desde a adolescência, Escreve para o Blog do André Stanley, sobre assuntos diversos.

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