Muitas vezes ouço as pessoas ao meu redor dizerem que não
gostam de filmes europeus. Filmes europeus são chatos e parados, e não tem
efeitos especiais. É uma opinião coerente quando analisamos a geração atual que
cresceu sob o domínio massivo das produções Hollywoodianas. Essa dicotomia “Cinema
Hollywoodiano versus Cinema Europeu” é facilmente identificável quando
comparamos, por exemplo, Spielberg com Hitchcock. Enquanto os filmes hollywoodianos
de Spielberg se valem de efeitos especiais ultra- fantásticos, Hitchcock se
utiliza de efeitos propositalmente mais modestos para que estes não interfiram
no valor inerente do roteiro que tem em mãos. Podemos então analisar está dicotomia
da seguinte forma: O cinema Hollywoodiano lança mão de recursos ilimitados de
produção, muitas vezes para tapar furos enormes de roteiros, que passam
despercebidos a uma clientela que perdeu o habito de olhar criticamente para os
filmes devido a quantidade enorme de efeitos especiais contidos nessas obras,
cujo principal objetivo é exatamente atrofiar a condição critica da platéia.
Ninguém questiona o nacionalismo exacerbado, ou as
distorções históricas feitas pelos roteiristas de Hollywood, mas todos vibram
com as explosões alheias que surgem a cada minuto de filme rodado. Enquanto isso os filmes europeus muitas vezes
valorizam um roteiro forte que levam a reflexão dos temas propostos, o que gera
desconforto na platéia apática dos filmes hollywoodianos. O telespectador dos
filmes americanos não quer pensar, questionar ou contestar, isso cansa.
É melhor comprar a idéia já pronta e enlatada, produzida
pela indústria hollywoodiana. É assim que filmes de qualidade questionável faturam
rios de dinheiro enquanto filmes poéticos e questionadores se tornam marginais
relegados aos telespectadores chatos (como eu). Creio que a melhor definição já
dada para essa dicotomia descrita aqui foi expressa pelo próprio mestre do
suspense Alfred Hitchcock que disse que “O filme europeu pode abrir com uma
imagem de nuvens, cortar para outro plano de nuvens, e então cortar para um
terceiro plano de nuvens. Se um filme americano abre com uma imagem de nuvens,
deve cortar para um plano de um avião, e se no terceiro plano o avião não tiver
explodido, a platéia estará entediada.” Para aqueles que amam de paixão o
cinema americano essa leitura acaba aqui, afinal devem estar entediados demais
para continuar a ler.
O que muitos talvez não saibam é como a indústria do cinema
americana chegou aonde chegou. A produção de filmes em larga escala – o que
caracteriza uma indústria – deu inicio na Europa logo após a primeira guerra
mundial, muitos países europeus exportavam filmes. No entanto, as dificuldades
financeiras ainda decorrentes da guerra fez com que os EUA pulasse na frente e
criasse uma industria cinematográfica com pretensões globais o que veio a se
firmar na decorrência dos anos. Hollywood
desde sua origem nunca produziu filme voltado somente ao mercado interno, queria
criar um produto tipo exportação. Foi dessa pretensão que surgiu a idéia de
criar uma indústria mundial de filmes com sede em Hollywood. Hoje em dia essa ligação de Hollywood com o
cinema é tão forte que para muitos são sinônimos. E com isso muitos perdem a oportunidade
de usufruir de filmes mais analíticos e críticos feitos até mesmo em solo norte
americano, pois se o filme é americano ele deve ser feito pelos estúdios de
Hollywood.
Cada país hoje tem Hollywood como entrave para o
desenvolvimento de seu cinema nacional justamente por isso. A dicotomia em
questão é: “Cinema Hollywoodiano – não necessariamente o cinema americano –
contra o cinema nacional”. E dessa forma o cinema europeu com toda sua carga artística
e intelectual faz parte do outro, do cinema nacional, regionalista em oposição
ao cinema massificador americano simbolizado por Hollywood. No fim das contas o
que o cinema comercial americano quer é arrecadar e para isso fazem o que os
pastores de igrejas evangélicas são mestres em fazer, condicionam seus fiéis –
eu diária vitima – para pagar montantes enormes para sua causa, mesquinha e capitalista.
Afinal queremos alguém para pensar por nós, não queremos questionar, ou
contestar o que está escrito. Dessa forma Ingmar Bergman com sua forma caótica
de ver o mundo nunca será páreo para as histórias fáceis – e impotentes filosoficamente
– dos roteiros usados por James Cameron em filmes como ”Exterminador” ou “Avatar”.
Não vejo nada errado em alguém gostar de filmes como “Homem de Ferro”, “Velozes
e Furiosos” ou “Indiana Jones”, o problema é achar que isso é a única coisa no mundo
que podemos chamar de cinema.
Um dos melhores filmes da história do cinema na minha
singela opinião é um filme americano financiado alias, por Hollywood. Trata-se
de “Paris Texas”. Ok, foi dirigido por um diretor europeu, o alemão Wim
Wenders. Mas a história se passa nos EUA com toda uma atmosfera texana e uma
trilha sonora totalmente americana. Creio
que o problema não é ser alienado, mas sim ser alienado e não questionar tal
alienação. Quem não questiona o próprio conforto está fadado a ser um zumbi da indústria
cinematográfica. Foi o Próprio Chaplin que questionou o poder persuasivo da indústria
em “Tempos modernos”.
Em breve teremos um bando de telespectadores alienados e
incapazes de contestarem qualquer coisa, simplesmente porque uma explosão
qualquer o fez perder o foco da questão. Assim se constrói a sociedade do domínio
massivo proporcionado por Hollywood.E para aquele que provar que eu estou
mentindo por favor deixe seu comentário.
André Stanley alcunha de André Luiz Ribeiro é professor e escritor; autor do livro “O Cadáver” (Editora Multifoco – 2013); É membro efetivo da Asso. Dos Historiadores e pesquisadores dos Sertões do Jacuhy desde 2004. Atua hoje como professor e pesquisador de História Cultural. Também leciona língua inglesa, idioma que domina desde a adolescência, Administra e escreve para os blogs: Blog do André Stanley (blogdoandrestanley.blogspot.com) – Sobre História, política, arte, religião, humor e assuntos diversos e Stanley Personal Teacher (stanleypersonalteacher.blogspot.com) onde da dicas de Inglês e posta exercícios para todos os níveis.
O cinema americano prefere transar e o europeu prefere discutir a relação !!!
ResponderExcluirO cinema americano prefere transar e o europeu prefere discutir a relação !!!
ResponderExcluirO cinema americano prefere transar e o europeu prefere discutir a relação 2
ResponderExcluirO interessante é que no livro 1984 George Orwell faz uma crítica parecida com a sua. Os filmes aprovados pelo Socing são todos cheios de violências e explosões, a fim de tirar a análise crítica dos espectadores.
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