Era
uma vez um inteligentíssimo professor de português chamado Assis. Seu
conhecimento em relação à língua portuguesa era invejável. Na faculdade de
Letras, Prof. Assis estudou todas as regras gramaticais da língua portuguesa
até se tornar um expert nesse
assunto, sendo consultado até pelos professores quando estes tinham alguma
dúvida em relação à uma regra de acentuação, de pontuação ou até mesmo de
concordância. Ao terminar a faculdade, Assis que já ministrava aulas no ensino
médio, quis dar continuidade à seus estudos e fez mestrado em gramática
avançada. Era já considerado um dos mais conceituados peritos em língua
portuguesa de sua região. Começou a
ministrar aulas no ensino superior, e sua fama foi se alastrando.
Professor
Assis respirava português, vivia português, estava sempre fazendo análises
sintáticas de tudo que lia, uma simples frase de um outdoor já era objeto de
suas análises. Em algumas situações chegava até mesmo a ligar para a empresa
responsável pela propaganda para corrigi-los. “Não se usa vírgula ali, não é
permitido usar tal preposição em tal lugar... criticas assim eram comuns. Certa
feita, quando Prof. Assis chegava à sua chácara – uma pequena propriedade onde
passava seus finais de semana - deparou-se com um delinqüente que pulava a
cerca de sua propriedade com duas galinhas que havia furtado do galinheiro do
Professor. Ao abordar o ladrão, Prof. Assis diz: _ Restitua sem detença, este
par de galináceos ao aviário de origem, seu biltre. O ladrão por sua vez se aproximou
de seu interlocutor e lhe acertou um safanão, e partiu deixando ali as
galinhas, que intuía roubar.
Futuramente,
ao ser preso o ladrão de galinhas, perguntou-se por que havia acertado o pobre
professor sem levar as galinhas que roubará, o larapio respondeu: _ Ele me
ofendeu, chamou minha mãe de galinha e me chamou de bicha...
Através
desse exemplo podemos notar como era o discurso do Professor Assis. Um belo dia
nosso destemido professor recebeu um convite do governo paraguaio para ensinar
crianças do ensino fundamental do Paraguai a falar português, fazia parte de um
programa que visava integra os países do MERCOSUL. O governo paraguaio queria
que suas crianças – futuros governantes daquele país – aprendessem o português
desde cedo para estarem preparados no futuro para uma melhor integração
comercial com o Brasil. Prof. Assis que não fugia à um desafio, aceitou o
convite, afinal o salário era bem atrativo. No entanto, havia um problema,
Prof. Assis não sabia muito o espanhol.
Pediu
então um ano inteiro para aprender a língua e depois partiria para o
Paraguai.
Ficou um ano estudando espanhol
com afinco, adquiriu as gramáticas mais conceituadas da língua espanhola.
Estudou tanto que em seis meses já falava espanhol normalmente, mas, como era
de se esperar continuou estudando todas as regras fundamentais e avançadas da
língua. Estudou também os símbolos fonéticos e as pronuncias descritas pelos
mais conceituados dicionários da língua espanhola e castelhana. Depois de um
ano debruçado sobre os livros o nosso Professor, agora um perito em espanhol,
foi para Paraguai ensinar português para algumas crianças.
Missão
muito fácil pra um mestre em língua portuguesa que lecionava em faculdades no
Brasil. Em sua primeira aula o Professor Assis chega na sala de aula e diz:
_Hoy empieza
una nueva etapa.
Vosotros están prestes a conocer una rica y soberana lengua, el idioma portugués. Mi persona será profesor de vosotros. A me me
gustaría mucho que obedezcan
correctamente las reglas…
As
pobres crianças faziam parte de uma comunidade indígena e falavam um espanhol
com bastantes elementos do tupi, sem contar que o sotaque deles era obviamente
bem distinto do espanhol clássico. Quando um termo local era usado por um dos
alunos o Prof. Assis intervinha e proibia o uso de tal termo, pois se eram
cidadãos paraguaios deveriam saber falar bem sua língua oficial. Com o passar
do tempo os alunos passaram a ficar com medo de intervir nas aulas, pois,
tinham receio de usar algum termo que não fizesse parte do rico vocabulário
espanhol clássico do Prof. Assis. Chega então a prova do primeiro semestre, nenhum
aluno consegue tirar nota acima de cinco – pontuação mínima exigida para passar
de ano. Mas, era apenas a primeira prova e o Prof. Assis continuou suas aulas
de português, mas obvio que primeiro havia que ensinar as crianças a falar
corretamente o espanhol, pois como iria ensinar o português se não falam certo
sua própria língua? Assim pensava nosso perito.
Um
ano se passou e todos os alunos do Prof. Assis, foram abaixo da média, só
conseguiram ser aprovados porque o português foi tido como matéria auxiliar
experimental e não como obrigatória no currículo. Diante desse quadro
desfavorável Prof. Assis foi demitido e voltou a lecionar nas faculdades do
Brasil. Sempre quando argüido sobre sua temporada mal sucedida no Paraguai,
Prof. Assis dizia que, o ensino no Paraguai era muito fraco e que não podia
ensinar português para crianças que não sabiam nem como utilizar sua própria
língua.
André Stanley
André Stanley é professor e escritor; autor do livro “O Cadáver”; presidiu o Centro acadêmico do curso de História no UNIFEG em 2007, é membro efetivo da Ass. Dos Historiadores e pesquisadores dos Sertões do Jacuhy desde 2004. Atua hoje como professor e pesquisador de História. Também leciona língua inglesa idioma que domina desde a adolescência..
André Stanley
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