Imagem: Metaleiro Neurótico - André Stanley |
Esse artigo foi originalmente publicado alguns anos atras no blog "Crisalidá de Aço", mas acho que o tema é legal para gerar discussões
“Enquanto houverem garotos chateados, continuará a existir o Heavy
Metal.” Assim profetizava Ozzy Osborne, o avô do Metal nos idos dos anos 80s.
Buscava definir em uma frase toda a essência do Heavy Metal e creio não haver
aforismo mais sábio que este.
Em 1984, época em que este estilo ganhava o mundo, um caso de suicídio
chocou a opinião pública, quando os pais do dito suicida resolveram processar
OZZY OSBORNE por induzir através de sua música o rapaz a tirar sua própria
vida. Um ano depois o JUDAS PRIEST também enfrentou os tribunais por conta de dois fãs da banda que atiraram
em suas próprias cabeças. O próprio Ozzy já havia estado antes em situação
semelhante quando uma enfermeira teria se matado ao ouvir a música “Paranoid”
do BLACK SABBATH. Outros casos como esses ocorreram posteriormente envolvendo bandas
como, AC/DC e PINK FLOYD em mais de uma ocasião.
Culpar um estilo musical por fazer apologia ao suicídio parece uma
solução interessante, sobretudo, para quem detesta tal música. Mas será que as
famílias destes suicidas não querem mesmo é se redimirem da própria culpa?
A discussão seria mais proveitosa se analisássemos o perfil do fã de
Metal. O popular “metaleiro” – como o próprio Ozzy nos alertou acima – é um
sujeito chateado com a vida, alguém que precisa se libertar de alguma forma de
algum tipo de prisão psicológica que o oprime. Neste sentido, a música pesada
se torna uma espécie de válvula de escape e, sobretudo, uma forma de
manifestação social, o headbanger quer ser ouvido e sua música é a única forma
que encontra para que a sociedade o ouça.
Não acredito que o headbanger seja um suicida em potencial, como muitos
especialistas da área de psicologia vêm cogitando. Afinal – e essa é uma
constatação pessoal – de todas as pessoas do meu círculo de amizades que tentou
ou consumou o ato suicida, nenhum deles era headbanger.
No entanto, há artigos científicos que afirmam que o fã de Metal “têm uma
tendência significativamente mais alta" a ter comportamentos depressivos e
é sabido que o fã de Heavy Metal, muitas vezes, se encontra oprimido demais
dentro de uma sociedade essencialmente conservadora, hipócrita e
fundamentalista, que valoriza cada vez mais, padrões irreais de beleza e do que
é socialmente correto ou aceitável.
O fã de Metal é na verdade, uma pessoa que se sente incapaz de viver no
mundo real desolador e tão diferente daquele que almeja, onde peculiaridades
comportamentais são tidas como evasão social, e não como um ato de
criatividade.
Muitos, quando ficam mais velhos caem na real e veem que o tão sonhado
mundo épico estampados nas capas dos álbuns das bandas que gostam é apenas uma “utopia”, uma
idealização subjetiva de um mundo onde somente ele é o protagonista. Talvez até
um “mundo paralelo” criado para dar mais significado a sua vida.
Mas as vezes, algo errado acontece - muito raramente é verdade - ao
enfrentarem esse choque de realidade, sua mente já fortemente abalada pela
frustração e, muitas vezes, pela falta de apoio familiar e social acaba fazendo
com que esses indivíduos se atirem nas garras da depressão e vez ou outra
tenham pensamentos suicidas.
Creio que a questão que deve ser discutida é, será que o Heavy Metal é
um estilo – não só musical, mas também um estilo de vida – que atrai pessoas
neuróticas e por isso temos casos como estes citados acima? Ou esse estilo se
presta como um fator terapêutico que ajuda essas pessoas neuróticas a ter uma
vida mais segura – mesmo que de forma idealista – e até mesmo a fugir de
qualquer pensamento suicida?
Não é meu papel esgotar esse debate, até mesmo porque, apesar de ser fã
de Heavy Metal há algumas décadas, não sou especialista na área da psicologia,
mas qualquer discussão dessa importância cabe a qualquer um envolvido na cena.
Afinal a depressão se tornou uma questão de saúde pública e deve ser tradada
com cuidado, e em qualquer tribo urbana da modernidade esse problema estará presente,
e no Heavy Metal não é diferente.
O que cabe a nós como seres humanos, é buscar entender esses casos e dar
suporte a quem assim precisar, seja essa pessoa headbanger ou não.
Fontes:
- https://whiplash.net/materias/curiosidades/207647-ozzyosbourne.html
- http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0047-20852009000100004
- https://whiplash.net/materias/curiosidades/000116-robertjohnson.html
- https://musica.uol.com.br/noticias/redacao/2015/03/24/o-heavy-metal-na-ciencia-pesquisadores-usam-estilo-musical-em-seus-estudos.htm
Sites
importantes para saber mais sobre o tema:
- https://www.headbangermind.com/2017/09/28/suicidio-a-responsabilidade-metal/
https://www.abcdasaude.com.br/psiquiatria/suicidio
https://www.tuasaude.com/suicidio-na-adolescencia/
http://www.setembroamarelo.org.br/
https://www.huffingtonpost.com/entry/take-the-glamour-out-of-suicide_us_590888fee4b03b105b44bbff
André Stanley é escritor e professor de História, Inglês e Espanhol, autor do livro "O Cadáver", editor dos blogs: (Blog do André Stanley, Stanley Personal Teacher). Colaborador do site especializado em Heavy Metal Whiplash. Foi um dos membros fundadores da banda de Heavy Metal mineira Seven Keys. Também é fotógrafo e artista digital.
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