Ser professor...
Ser professor é
ter consciência de seu papel social. Por isso não acho que podemos ser
professores ocasionais. Acho que ser professor é fazer uma escolha. Não é
simplesmente cair de pára-quedas em uma escola e começar ensinar. Creio que não
se pergunta a um palhaço por que ele é palhaço. Ou seja, ostentar uma roupa
ridícula e andar de forma desengonçada e ainda ter que carregar o título já
popularmente pejorativo de palhaço. Por que alguém escolhe ser um palhaço? Um
palhaço também é conhecedor de seu papel social. Se o mundo fosse um lugar mais
feliz não necessitaríamos de palhaços profissionais, pois todos já seriamos.
Nem todos conseguem sentir a necessidade de fazer rir, portanto nem todos
conseguem notar a necessidade dos palhaços.
Acho
que ser professor é ser algo semelhante. Ser professor é notar que em uma sociedade
onde a corrupção e o desinteresse predominam alguém necessita levantar a
bandeira do conhecimento. E não são muitos os que percebem essa necessidade.
Por isso ser professor às vezes parece uma escolha improvável.
Ser professor é
ser eternamente frustrado. Freud colocava junto com a política e a
terapia, o ensino, como os três ofícios impossíveis. Nesse sentido Philipe
Perrenoud diz que o fracasso é uma possibilidade que não pode ser excluída de
antemão. Talvez seja a possibilidade mais provável. No entanto o professor é
por natureza um Dom Quixote. Ele mobiliza todas suas forças para impedir o
fracasso. Portanto ser professor é
“conhecer os limites do outro e mesmo assim acreditar que ele é capaz”. Os
grandes professores barram o fracasso acreditando no aluno.
Ser professor é acreditar
no seu aluno.
Muitas vezes somos levados a acreditar em declarações de colegas e de
superiores. “Tal aluno é muito burro, não sabe nada.” “Tal pessoa é incapaz de
aprender.” “Aquele menino tem algum problema, acho que não será possível
ensinar a ele.” Se acreditarmos em tudo isso nunca desempenharemos nosso
oficio.
Ser professor é ser capaz de trabalhar com situações adversas. Se todos tivessem a mesma capacidade de aprendizagem não seria necessário professores. Pois uma explicação padronizada seria o suficiente para todos aprenderem a mesma coisa.
Ser professor é
ser capaz de aprender. Ser capaz de construir o conhecimento dentro da
sala de aula com seus alunos usando elementos diversos que estejam disponíveis.
Costumamos ver a teoria como conhecimento. Na verdade a teoria é desconstrução
do conhecimento. A experiência é o que mostra a beleza das coisas. No entanto
antes de construir uma bela catedral gótica é necessário que se use andaimes
para chegar ao belo resultado final. Teorias são andaimes que nos auxiliam, não
o conhecimento em si.
Ser professor é
ter uma postura reflexiva. Ser professor é analisar seus
relacionamentos. Avaliar sua postura diante de seus colegas de oficio, e diante
de seus alunos. Ter a capacidade de autocrítica. Ensinar não se trata de uma
disputa corporativa, mas sim uma disputa pessoal na qual deve se pretender ser
melhor do que fora antes, isso diariamente.
Ser
professor é também ter a habilidade de avaliar seus alunos levando em consideração as
limitações de cada um. E incutir nesse aluno a vontade de também melhorar
sempre.
Ser
professor é portanto, participar ativamente na construção de um cidadão dotado de vontade
própria e habilidades para atuar na sociedade moderna. Essa construção demanda
trabalho disciplina e, sobretudo ética. Ser professor é estar ciente que sua
função por mais complexa e difícil que possa parecer, e por mais liberdade que
possa dispor para agir, deve ser sempre pautada dentro da ética e da moral.
André Stanley é escritor e professor de História, Inglês e Espanhol, autor do livro "O Cadáver", editor dos blogs: (Blog do André Stanley, Stanley Personal Teacher). Colaborador do site especializado em Heavy Metal Whiplash. Foi um dos membros fundadores da banda de Heavy Metal mineira Seven Keys. Também é fotógrafo e artista digital.
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