sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

Ex-Vegetariano

 


Confesso a vocês, que nessa onda de naturalismo, vegetarianismo e coisas afins, passei a me preocupar mais com o que comia. Quando garoto, tinha uma aversão mórbida a qualquer tipo de verduras. Dos legumes, me eram sociáveis apenas a batata e a abobora – logicamente em sua versão doce de abobora. Ou seja, tinha uma alimentação fundamentada em comidas de gênero animal, carne branca, vermelha ou sem cor, ovos fritos ou cozidos. Com o tempo senti a necessidade de experimentar novos gêneros alimentícios, pois minha mãe passou a jogar sujo comigo. Preparava jiló, salada de alface, de couve, de agrião, e a carne só nos finais de semana.

 

         Enfim, comecei a ingerir mais coisas verdes. Mas esse meu novo conceito alimentício ao invés de se amenizar com o tempo, foi se extremando. Virei vegetariano. Mesmo que eu tenha sido influenciado por essas novas ondas de veganismo, que estão em todo lugar – até mesmo em panfletos evangélicos – eu encontrei um motivo íntimo e nobre para me manter comendo apenas mato e raízes. Eu era um simpatizante da causa animal. Morria de pena daqueles gatinhos abandonados na rua, miando desesperadamente esperando a morte chegar. Aqueles cachorrinhos perdidos que pareciam cavaletes ambulantes revirando latas de lixo. Por que também não sentir pena das vaquinhas e dos porquinhos, e até mesmo das galinhazinhas que morriam aos milhares para nos alimentar?

 

         Sempre quando me encontrava tentado a saborear um suculento bife acebolado, os imagens de animais sendo executados mecanicamente em um tipo de linha de produção invadiam minha cabeça. Mas eis que um dia eu tive uma recaída, e aceitei ir a um churrasco na casa de um amigo, e o vinagrete estava um tanto amargo, me empanturrei de carne como nunca antes. No dia seguinte abandonei minha causa em favor dos animais. Ainda tenho pena deles, mas meu instinto de sobrevivência falou mais alto. Comecei a assistir aqueles documentários sobre vida selvagem, onde vemos leoas famintas caçando pobres animais indefesos, como zebras, antílopes, búfalos e até os enormes elefantes. Tornei-me um grande defensor do bife acebolado graças a estes documentários.

        

Uma amiga minha, remanescente dos tempos de vegetarianismo, disse estar com pena de mim, por ter voltado a me alimentar de carne. Numa tentativa de trazer de volta minha culpa em relação aos pobres bichinhos, ela me disse: “Eu reforcei minha crença em nossa causa, agora além de não comer carne, também não uso nada que seja feito de couro de animal, e meus bichinhos de estimação – ela tem uma coleção de gatos, cães e uma Cacatua – são tratados como se fossem meus filhos.” O interessante é que quando estava quase voltando a me sentir culpado pela minha volta aos antigos hábitos carnívoros, eu vi um saco de ração de gatos em cima do armário da cozinha dessa minha miga, e perguntei: “Aquela ração, que você dá aos seus bichanos, é de alface, ou couve-flor?”

 

         Fatos assim ajudaram-me a amenizar a culpa. Com os documentários de vida selvagens, aprendi muito sobre a cadeia alimentar, aquelas coisas que aprendemos no colégio: “O mais forte come o mais fraco.” Como nós humanos somos mais fortes e desenvolvidos, estamos naturalmente no topo dessa cadeia. Mas o interessante disso tudo é notar que o leão mata para se alimentar, para se manter vivo, e constantemente vemos seres-humanos matar por simples capricho. É! Eu sei, parece que estou voltando a defender a causa animal.

 

 

André Stanley é escritor e professor de História, Inglês e Espanhol, autor do livro "O Cadáver", editor dos blogs: (Blog do André Stanley, Stanley Personal Teacher). Colaborador do site especializado em Heavy Metal Whiplash. Foi um dos membros fundadores da banda de Heavy Metal mineira Seven Keys. Também é fotógrafo e artista digital.

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