Confesso a vocês, que nessa onda de
naturalismo, vegetarianismo e coisas afins, passei a me preocupar mais com o que
comia. Quando garoto, tinha uma aversão mórbida a qualquer tipo de verduras. Dos
legumes, me eram sociáveis apenas a batata e a abobora – logicamente em sua
versão doce de abobora. Ou seja, tinha uma alimentação fundamentada em comidas
de gênero animal, carne branca, vermelha ou sem cor, ovos fritos ou cozidos. Com o tempo
senti a necessidade de experimentar novos gêneros alimentícios, pois minha mãe
passou a jogar sujo comigo. Preparava jiló, salada de alface, de couve, de
agrião, e a carne só nos finais de semana.
Enfim, comecei a ingerir mais coisas
verdes. Mas esse meu novo conceito alimentício ao invés de se amenizar com o
tempo, foi se extremando. Virei vegetariano. Mesmo que eu tenha sido
influenciado por essas novas ondas de veganismo, que estão em todo lugar – até
mesmo em panfletos evangélicos – eu encontrei um motivo íntimo e nobre para me
manter comendo apenas mato e raízes. Eu era um simpatizante da causa animal.
Morria de pena daqueles gatinhos abandonados na rua, miando desesperadamente
esperando a morte chegar. Aqueles cachorrinhos perdidos que pareciam cavaletes
ambulantes revirando latas de lixo. Por que também não sentir pena das
vaquinhas e dos porquinhos, e até mesmo das galinhazinhas que morriam aos
milhares para nos alimentar?
Sempre quando me encontrava tentado a saborear um suculento bife acebolado, os imagens de animais sendo executados mecanicamente em um tipo de linha de produção invadiam minha cabeça. Mas eis que um dia eu tive uma recaída, e aceitei ir a um churrasco na casa de um amigo, e o vinagrete estava um tanto amargo, me empanturrei de carne como nunca antes. No dia seguinte abandonei minha causa em favor dos animais. Ainda tenho pena deles, mas meu instinto de sobrevivência falou mais alto. Comecei a assistir aqueles documentários sobre vida selvagem, onde vemos leoas famintas caçando pobres animais indefesos, como zebras, antílopes, búfalos e até os enormes elefantes. Tornei-me um grande defensor do bife acebolado graças a estes documentários.
Uma amiga minha, remanescente dos tempos
de vegetarianismo, disse estar com pena de mim, por ter voltado a me alimentar
de carne. Numa tentativa de trazer de volta minha culpa em relação aos pobres
bichinhos, ela me disse: “Eu reforcei minha crença em nossa causa, agora além
de não comer carne, também não uso nada que seja feito de couro de animal, e
meus bichinhos de estimação – ela tem uma coleção de gatos, cães e uma Cacatua
– são tratados como se fossem meus filhos.” O interessante é que quando estava
quase voltando a me sentir culpado pela minha volta aos antigos hábitos
carnívoros, eu vi um saco de ração de gatos em cima do armário da cozinha dessa
minha miga, e perguntei: “Aquela ração, que você dá aos seus bichanos, é de
alface, ou couve-flor?”
Fatos assim ajudaram-me a amenizar a culpa.
Com os documentários de vida selvagens, aprendi muito sobre a cadeia alimentar,
aquelas coisas que aprendemos no colégio: “O mais forte come o mais fraco.” Como
nós humanos somos mais fortes e desenvolvidos, estamos naturalmente no topo
dessa cadeia. Mas o interessante disso tudo é notar que o leão mata para se
alimentar, para se manter vivo, e constantemente vemos seres-humanos matar por
simples capricho. É! Eu sei, parece que estou voltando a defender a causa
animal.
André
Stanley é escritor e professor de História, Inglês e Espanhol, autor do livro
"O Cadáver", editor dos blogs: (Blog do André Stanley, Stanley
Personal Teacher). Colaborador do site especializado em Heavy Metal Whiplash.
Foi um dos membros fundadores da banda de Heavy Metal mineira Seven Keys. Também é fotógrafo e artista
digital.
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