Dia 06 de Maio de 1856 nascia Sigmund Freud o grande idealizador e
criador da psicanálise. Uma forma de intervenção que visa, sobretudo, descobrir
através da conversa entre paciente e analista uma forma de analisar o
comportamento desse indivíduo para que sua vida psicológica seja mais
suportável. Há quem diga que essa é a melhor profissão do mundo, afinal, psicanalistas ganham dinheiro conversando com
pessoas, ouvindo seus podres e intervindo minimamente. Talvez por isso, as
mulheres formam quase 90% da Psicologia brasileira .
Que outra criatura sobre a terra tem um dom tão apurado na arte de bater
um bom papo? Em meio discussões sobre a aplicabilidade da
psicanálise hoje em dia, há obviamente aqueles que se desvincularam totalmente
das práticas freudianas, e outros que ainda o seguem firmemente, as vezes,
cegamente.
O que há de se considerar é que a sociedade atual, que muitos batizam de
pós modernidade, vem derrubando uma série de instituições que eram muito
poderosas na época em que Freud elaborou sua teoria psicanalítica. Temos que
lembrar que no final do século IX tínhamos uma sociedade em transformação. Economicamente
o capitalismo consolidava seu poder, e por isso criou as bases históricas
necessárias para as chamadas “revoluções socialistas” que ocorreram em diversas
partes do mundo durante o século XX. E no campo social devemos lembrar que
Freud viveu em uma sociedade que exercia uma forte pressão sobre o
comportamento sexual das pessoas (Leiamais).
Talvez hoje na nossa sociedade, que em grande parte, vive sob o jugo do “neoliberalismo”
e que vem enfrentando um processo de globalização agressivo, as neuroses que
Freud identificava em seus pacientes e principalmente suas pacientes neuróticas,
devido à repressão sexual que sofriam, não seja mais tão recorrente, no entanto
novos desafios surgem no campo da psicologia.
São desafios que a metodologia Freudiana também deve enfrentar. Com o
avanço da psiquiatria e com desenvolvimento de novas e mais eficientes drogas
para aliviar tensões comportamentais, a psicanálise de Freud vem sendo relegada
por muitos ao campo da filosofia. Se podemos resolver problemas de depressão e
ansiedade – muito recorrentes e em crescimento hoje em dia – com intervenção
medicamentosa, não seria coerente ficar uma hora despejando seus podres nos
ouvidos de uma psicóloga e ainda gastar uma boa grana com isso. Mas claro que
os tempos são outros, mas os problemas e questionamentos existências continuam
a nos perseguir, talvez um remédio pode causar tanto alivio a uma pessoa que
ela não será capaz de resolver suas pendengas mentais e fatalmente será inclusa
na grande massa de pessoas que caminham cegamente em direção a uma felicidade
sintética criada por uma sociedade que não tem tempo de parar e pensar no que
está fazendo de sua vida.
Em algum momento estaremos sentados em uma cadeira de um escritório
despachando documentos nos sentindo a pessoa mais feliz do mundo, e seremos
incapazes de nos questionar sobre o objetivo de nossas ações. Como ouvi certa
vez alguém comparar Freud com um grande inventor brasileiro. O fato de eu
viajar de avião o tempo todo me faz lembrar que Santos Dumont tem uma grande
importância para aviação, no entanto, eu nunca teria coragem de subir a bordo
do seu 14 bis.
Creio que esse exemplo, um pouco extremizado, pode ser usado, já que as
obras de Freud foram escritas em um contexto histórico totalmente diferente do
atual. No entanto, sua importância ainda é inegável. Freud está hoje no
inconsciente coletivo, quando uma pessoa comete um ato falho durante uma
conversa já conseguimos levar em consideração a possibilidade de o ato falho
ser realmente o que a pessoa queria dizer. Isso é ter uma postura Freudiana
diante da vida. Não sou a favor do masoquismo psicológico, se sofremos e temos
remédios que atenuem esse sofrimento, que os usemos, mas nunca ao ponto de
perder a oportunidade de tirar algum proveito desse sofrimento.
André Stanley é escritor e professor de História, Inglês e Espanhol, autor do livro "O Cadáver", editor dos blogs: (Blog do André Stanley, Stanley Personal Teacher). Colaborador do site especializado em Heavy Metal Whiplash. Foi um dos membros fundadores da banda de Heavy Metal mineira Seven Keys. Também é fotógrafo e artista digital.
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