segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

Como nossa personalidade é formada? Como aprendemos a viver?

Stanley Creation




Se a vida é uma forma de nos esculpir como pessoas como dizia Foucault, de que forma executamos esse processo?

Houve uma época em que se acreditava que o desenvolvimento humano era um fator puramente biológico, ou seja, cada um de nós já nascemos equipados com certas aptidões e que o meio em que vivemos tem pouca ou nenhuma influência no nosso desenvolvimento psicológico. Para contrapor essa corrente de pensamento, outros vieram a contestá-la, defendendo que o ser humano é totalmente moldado pelo meio em que vive, relegando ao aspecto biológico uma importância menor.

Outros estudiosos do desenvolvimento humano trouxeram uma abordagem mais ampla e condizente com a complexidade do ser humano.
São eles, os interacionistas, que pregam que o desenvolvimento humano não é exclusividade nem do meio social, nem do biológico, mas sim de uma interação entre esses dois fatores. Dentre os cientistas mais conhecidos que defendiam essa abordagem estão Jan Piaget e Vygotsky.

Para Piaget, o ser - incluindo os animais - busca um equilíbrio entre o seu biológico e o meio em que vive. E essa busca por equilíbrio se dá através de dois mecanismos, a assimilação e a acomodação. Através da assimilação o organismo vai tentar encontrar uma forma de significação para sua relação com o meio onde está inserido sem que para isso mude sua estrutura primordial. Através da acomodação, o organismo busca mudar suas estruturas, para se adequar ao que o meio ambiente lhe impõe.

Esses dois mecanismos ocorrem a todo momento durante o processo de desenvolvimento do indivíduo. Se uma criança recebe um brinquedo, como uma bola por exemplo, pela primeira vez, ela fará  assimilação ao esticar o braço para segurar a bola, pois isso já faz parte de seu repertório anterior onde ela teve que esticar o braço para pegar algum outro brinquedo. No entanto, a acomodação vai ocorrer quando ela notar que ela terá que abrir os dedos até um certo limite e terá que pressionar o objeto com uma determinada pressão, e notará que essa bola se difere de uma bolinha de gude, por exemplo.

Para Piaget, o desenvolvimento humano ocorre através de processos sucessivos de maturação comum a todos nós.

1º período: Sensório-motor              (0 a 2 anos)
2º período: Pré-operatório                (2 a 7 anos)
3º período: Operações concretas     (7 a 11 ou 12 anos)
4º período: Operações formais         (11 ou 12 anos em diante)

Essas etapas ocorrem sempre nessa ordem com qualquer indivíduo, podendo variar um pouco a idade em que cada uma delas ocorre. Portanto, Piaget acredita que é um processo biológico, onde o impacto da educação e dos processos de aprendizagem é relativamente baixo, apesar de ser necessário.
Já na concepção proposta por um outro interacionista, o russo Vygotsky, o desenvolvimento humano ocorre em consonância com o ambiente que o rodeia, sendo importante levar em conta os aspectos históricos, sociais e culturais desse indivíduo. Para Vygotsky o desenvolvimento da criança ocorre de forma ativa, ou seja, ela não está totalmente a mercê do ambiente, podendo ela própria agir e interferir em seu desenvolvimento como indivíduo.

Ou seja, a criança se apropria do social de uma forma particular e individual. Vygotsky não aceita a proposta piagetiana de que existe um sistema universal que rege o desenvolvimentismo de toda e qualquer criança, para ele a preponderância dos fatores biológicos sobre os sociais ocorre apenas no início do desenvolvimento da criança.
Vygotsky defende que o homem não nasce homem, ele se torna homem em sua interação com os outros, dando-se então o processo de humanização desse indivíduo.

Como podemos notar, são duas formas clássicas que ajudaram a moldar a psicologia moderna e é estudada, testada e aprovada ou refutada nas disciplinas que buscam uma metodologia de ensino/aprendizagem. No entanto, as discussões não terminam ai. 

Se há uma confluência entre estas linhas de pensamentos, é o fato de que o homem é incontestavelmente um animal social. Ou seja, um primata que devido ao processo de seleção natural, onde os seres mais preparados ao meio em que vive sobrevivem em detrimento dos menos preparados e veio a desenvolver a capacidade de criar sociedades que foram se desenvolvendo de forma cada vez mais complexa em um processo progressivo de humanização. 

Freud foi talvez o pensador que mais se debruçou nessa relação do homem primitivo que ainda há em cada indivíduo, com a sociedade que se desenvolveu ao seu redor. É através da psicologia desenvolvida dentro de um cérebro avantajado que permitiu ao homem, agora sob o genérico Homo Sapiens, criar estruturas para controlar o animal puro que nós somos em essência, para dar lugar agora a um ser social e sociável. 

Somos seres biopsicossociais, sintetizando de forma simplista. Somos estruturas Biológicas formados por células organizadas por meio de um código genético que antecede as questões sociais e psicológicas, ou seja, independe destas questões. Tornamo-nos seres sociais ao longo de nosso desenvolvimento biológico e nesse processo somos regrados pela comunidade na qual estamos inseridos (família, escola, trabalho, religião, etc) e para mediar esses dois fatores, somos levados a cultivar nosso comportamento de modo a nos encaixar dentro das regras básicas do convívio social, através de ferramentas psicológicas que desenvolvemos desde tempos remotos para amenizar esse conflito. 

Aliás, segundo a teoria Freudiana, é através deste conflito interno entre o ser biológico e ser social que vêm a tona em nossas neuroses cotidianas. Como o processo de seleção natural ainda está em curso, e o homo sapiens vem demonstrando especial capacidade de se adaptar ao meio, desenvolvemos a habilidade de deixar essa batalha psicológica velada em um estado de inconsciência. Ou seja, sentimentos como culpa, obsessões diversas, estres emocional, incontáveis crises de ansiedade que não sabemos de onde vêm, é o preço que pagamos por sermos humanos.

Portanto, temos um escopo teórico que nos permite entender, minimamente, que nos diferenciamos dos outro animais, ditos irracionais, pelo fato de termos desenvolvido uma habilidade, até então peculiar, de raciocinar sobre nossa própria existência. Nesse sentido somos capazes de moldar nosso comportamento, no entanto, dentro dos limites bem definidos de fatores biológicos e sociais. 

É assim que surge outra característica de extrema importância no cadinho psicológico que nos forma como indivíduos, a memória. Um fator de grande impacto no desenvolvimento de nossa vida social foi a capacidade que desenvolvemos de registrar por meio de códigos linguísticos a nossa história. Além de organismos biológicos que criaram sociedades complexas com a ajuda de mecanismos psicológicos, somos seres históricos.

to be continued......


André Stanley é escritor e professor de História, Inglês e Espanhol, autor do livro "O Cadáver", editor dos blogs: (Blog do André Stanley, Stanley Personal Teacher). Colaborador do site especializado em Heavy Metal Whiplash. Foi um dos membros fundadores da banda de Heavy Metal mineira Seven Keys. Também é fotógrafo e artista digital. 








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