quinta-feira, 25 de junho de 2020

Bolsonarismo vs. Nazismo. Há algo em comum?

Entre o cabo Hitler e o capitão Bolsonaro - Carta Maior



No fim da Segunda Guerra Mundial, quando a Alemanha estava prestes a cair nas mãos dos aliados, muitos generais e ministros da cúpula do partido Nacional Socialista encabeçado pelo Chanceler Adolf Hitler, começaram a planejar suas fugas. Talvez a tentativa mais desastrada, e por isso, mais emblemática, de buscar um acordo de paz para salvar a Alemanha de uma derrota já evidente, foi quando Rudolf Hess, um dos oficiais mais influentes do governo, voou para Escócia para negociar uma rendição honrosa com os ingleses. Óbvio que nesta tentativa desesperada Hess buscava sobretudo salvar sua própria pele, afinal tinha ciência que todos os crimes cometidos pelos nazistas seriam expostos tão logo fossem derrotados. 

Aqueles que permaneceram ao lado de Hitler até o fim já haviam, ao menos a grande maioria, planejado sua fuga para a América do Sul e EUA. Somente um núcleo bem restrito optou por permanecer ao lado de seu líder supremo até seu suicídio em 1945. Os mais fanáticos doutrinados pelo Fuhrer também tiraram suas próprias vidas, como Goebbels e Himmler e a “primeira dama” Eva Braun.

A questão é: todos sabiam que enfrentariam um tribunal internacional, e as chances de serem condenados eram grandes, levando em conta a gravidade inerente de seus crimes contra a humanidade. E todos, sem exceção, tinham plena ciência disso. Por isso, a principal estratégia de defesa deles foi tentar se desvencilhar da ideologia nazista, dizendo que estavam apenas cumprindo ordens e não eram coniventes com as ideias exóticas de seu líder. Fato é que durante os julgamentos de Nuremberg todos alegaram inocência e que foram vítimas da doutrinação nazista. Alguns conseguiram se livrar da condenação à morte, dentre eles o próprio Rudolf Hess, no entanto, 10 dos carrascos nazistas mais próximos de Hitler foram condenados à forca. 

A história, não tão longínqua, desses criminosos coniventes com o ideário inconsequente de um psicopata megalomaníaco pode nos trazer luz para a situação que vivemos hoje em nosso país. Há uma banalização do discurso de ódio sustentada por uma presumida liberdade de expressão, que, no entanto, burla as diretrizes legais contidas na nossa constituição de 1988.

Um grupo de políticos e apoiadores de um outro psicopata antidemocrático, desenvolveram uma retórica lunática de que estão sendo perseguidos por apoiar um político, e por isso estão vivendo uma ditadura do poder judiciário. Não percebem que estamos prestes a sofrer sanções internacionais devido à falta de compromisso do governo de Jair Bolsonaro com a democracia. Não percebem que, qualquer regime déspota, de relevância, que surgiu na idade contemporânea foram construídos nas periferias de sistemas presumidamente democrático, assim como o nazismo que se tornou exemplo onipresente nesse tipo de análise. 

Apoiar um político que convive sob o jugo da constituição que rege uma determinada república é legitimo, por outro lado, apoiar um político que defende abertamente – e devido a vigência de um sistema democrático –  a legalização de milícias e a prática da tortura, assim como pretende destruir as bases democráticas com as quais não consegue se harmonizar por falta de ética e sensatez, é dar guarida a criminosos sociopatas que ao fim do processo autodestrutivo que eles deram início, serão condenados ao lixo da história e seus seguidores viverão sob o anátema da opinião pública.

Quando vemos ministros fugindo do país, por medo de sofrer as consequências das diretrizes democráticas vigentes, com a ajuda do próprio governo, notamos que há uma briga entre o sistema democrático e o exercício do poder executivo, que vê riscos potenciais à sua continuidade.

O que se coloca agora ao fim dessa análise é que esses mafiosos que governam nosso país não se igualam aos carrascos nazistas citados acima, simplesmente pela falta de qualidade intelectual, afinal, não são capazes de teorizarem sua ideologia como um bloco plausivel de ideias, como foi o caso do próprio Adolf Hitler com o nazismo e Giovanni Gentile com o facismo italiano. Outra distinção histórica entre bolsonarismo e nazismo é o fato de contarmos hoje com uma maior transparência imposta pela tecnologia avançada, algo que não havia na década de 30 e 40. 


Se há algo de positivo nessa loucura toda é o fato de que nossa democracia apesar de machucada, se mostra viva e rígida e ainda é sustentada por uma série de freios e contrapesos que os poderes judiciais e legislativos ainda têm capacidade de exercer. No entanto, se até mesmo a maior democracia do mundo moderno foi abalada recentemente por fanáticos defensores de um déspota que invadiram o Capitólio em busca de deslegitimar um presidente eleito pelo voto popular, não sei se poderemos confiar na vitalidade de nossa jovem e cambaleante democracia por muito tempo. 
O que acham?



André Stanley é escritor e professor de História, Inglês e Espanhol, autor do livro "O Cadáver", editor dos blogs: (Blog do André Stanley, Stanley Personal Teacher). Colaborador do site especializado em Heavy Metal Whiplash. Foi um dos membros fundadores da banda de Heavy Metal mineira Seven Keys. Também é fotógrafo e artista digital.

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