Little Richard,
que nos deixou aos 87 anos, vítima de um câncer ósseo, foi um daqueles gays que
ao encontrar Jesus busca diluir sua pulsão sexual em uma retórica evangélica
onde o homossexualismo é visto como aberração antinatural e passível de ser
punido com o eterno fogo do inferno. No caso, de Little Richard, ele não
precisou ir muito longe para encontrar Jesus. O pequeno Richard foi o terceiro
filho, de um total de 12, de um traficante de bebidas que também era um diácono
da igreja batista que sempre o influenciou a seguir o evangelho.
Richard passou
toda sua carreira oscilando seu discurso entre a aceitação e a negação de sua
homossexualidade – na verdade, nunca negou que era homossexual, mas houve
momentos em que não aceitou ser – muitas vezes levado a uma postura
radicalmente evangélica, que segundo o próprio, foi o que o curou de seus
vícios. Richard teve problemas sérios com drogas pesadas e com seu
comportamento promíscuo enquanto vivia seus dias de celebridade, como um dos
pioneiros do recém-nascido Rock n' Roll.
Apesar de sua
postura ortodoxa, adotada ainda no final da década de 1950, Richard já havia
construído uma base sólida o bastante como um dos arquitetos do Rock, o que o
impossibilitou de se despir de sua postura subversiva e sensual que o havia
levado ao estrelato. Ele até tentou levar adiante sua carreira como um cantor
de música gospel, mas foram os impulsos onomatopeicos de seus rocks que o fez
permanecer no baixo inferno da música popular. Afinal, Little Richard, por
vezes tentou renegar seu passado como um dos fundadores de um estilo que até
hoje é associado a algo satânico, mas diante da impossibilidade mediante a
força de suas obras, nunca pode se desvencilhar de suas melodias repetitivas e
maliciosas.
Em suma, a
genialidade desse músico só se concretizou pela sua capacidade de transgredir,
de esticar limites e se transfigurar em cima de um palco, quebrando as
etiquetas que já eram convencionais até mesmo para o novo estilo que surgia.
Little Richard era um músico negro em uma indústria impregnada com a imagem de
um belo cantor branco chamado Elvis Presley, era pianista em um gênero que
tinha a guitarra como instrumento símbolo. Se trasvestia de formas
espalhafatosas, como uma Drag Queen hiperativa cantando refrãos repetitivos,
isso já no início da década de 1950.
E foi justamente essa fase maluca e
transgressora de Richard que ajudou a dar forma à um gênero musical que tomou o
mundo. Será, portanto, essa faceta do pequeno Richard, cheia de malícia e
sensualidade que se solidificará na história da música mundial como
ingredientes essenciais para a formação do que hoje conhecemos como Rock n’ roll.
André
Stanley é escritor e professor de História, Inglês e Espanhol, autor do livro
"O Cadáver", editor dos blogs: (Blog do André Stanley, Stanley
Personal Teacher). Colaborador do site especializado em Heavy Metal Whiplash.
Foi um dos membros fundadores da banda de Heavy Metal mineira Seven
Keys. Também é fotógrafo e artista digital.
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