domingo, 5 de abril de 2020

Uma pandemia para revelar um Brasil perigosamente fundamentalista.

Coronavírus: Em dia de jejum, evangélicos fazem oração por ...
Imagem: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo





O Brasil está doente. Enfrenta uma epidemia de falácias, insensatez, anticientificismo, desespero diante da realidade objetiva e agora o agravamento de uma pandemia de Coronavírus.

O Brasil chegou a um estado esquizofrênico e irracional que pode, em pleno século XXI, nos levar a ter que enfrentar os mesmos flagelos de uma Idade Média que - julgávamos o período mais sombrio da História da humanidade - como o domínio da Igreja sobre o Estado (ou o chefe de "Estado", reino, etc"), desprezo às descobertas científicas, uso de medidas supersticiosas para combater um vírus mortal - com o agravante de que durante a epidemia da peste bubônica – Século XIV –  não dispúnhamos das mesma tecnologia e conhecimento sobre viroses que temos hoje, nem mesmo sabíamos o que era um vírus.

Ou seja, em um momento da História onde sabemos a causa, a forma de contágio, somos capazes de contabilizar os infectados e os mortos, sabemos até mesmo como evitar a circulação do vírus, ainda assim negamos a eficiência da ciência e jogamos nossas vidas nas mãos de líderes psicopatas.

O grau de insanidade está chegando a níveis alarmantes. É preocupante notar que em um momento tão ímpar como esse as pessoas preguem que o simples pensar positivo, a oração, o sacrifício físico, a abstinência ou o jejum sejam eficientes ao ponto de curar é até mesmo de impedir que a pessoa contraia um vírus novo, que ninguém havia, até então, desenvolvido algum tipo de anticorpo contra.

A interferência da religião na política é muito eficiente. Afinal ninguém irá questionar a idoneidade de seu pastor, seu padre, seu guru espiritual, seu coach quântico. Justamente por isso é perigosa. Desfigura o Estado laico, impõe os interesses - geralmente financeiros - de alguns líderes espirituais como se fosse o interesse de uma categoria. No entanto, o mais nocivo é o negacionismo científico e a desautorização das recomendações daqueles que por obrigação devem permanecer lúcidos em meio à essa guerra de narrativas.

No final, quem nos socorrerá das epidemias e das mazelas impostas pelo autoritarismo será a ciência através de seus erros e acertos amparada pela prudência e pelo bom senso. Sempre será assim, um eficaz cirurgião nunca é exaltado pelos anos de estudo e apuramento de sua técnica, quando salva a vida de um doente agonizante, no máximo como um instrumento de deus que através das orações alheias curou o doente. E assim caminha nossa pátria, sendo desfigurada pelo ódio que aos olhos de um guru espiritual é "amor", demonstrando a cegueira moral em que as religiões - sim todas - estão imersas.

O simples pensar positivo e tapar os olhos para dados reais, não ajudam em nada, além demonstrar serem medidas de extremo egoísmo. Afinal, a oração nada mais é do que um placebo emocional que o permite seguir em frente negando a realidade.  No entanto, tem um efeito colateral destrutivo. Pois negando os fatos você coloca toda sua comunidade em perigo, pois o fato de você crer fielmente na sua oração não fará com que a doença desapareça, assim como sempre houve orações para os famintos na África e os números de mortos pela forme, pela guerra e por doenças diversas nunca pararam de crescer.

O que faz realmente diferença é reconhecer que FUDEU TUDO e partir para guerra com todas as forças,  fazer jejum, macumba, mapa astral ou correntes de whatsapp em momentos de crises reais, ao contrário do que você pensa, é sinal de demência, não de sensatez.


André Stanley é escritor e professor de História, Inglês e Espanhol, autor do livro "O Cadáver", editor dos blogs: (Blog do André Stanley, Stanley Personal Teacher). Colaborador do site especializado em Heavy Metal Whiplash. Foi um dos membros fundadores da banda de Heavy Metal mineira Seven Keys. Também é fotógrafo e artista digital.

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