sexta-feira, 10 de abril de 2020

A pior pandemia é a de desinformação: Não estávamos preparados para tantos imbecis agindo ao mesmo tempo

A dificuldade de se manter bem informado sobre Economia em tempos ...

Não estávamos preparados para tantos imbecis agindo ao mesmo tempo.

Vivemos uma pandemia real, outra virtual. Embora a pandemia real nos faça temer pela nossa vida ou pela de um ente querido, é a pandemia virtual propagada via memes nas redes sociais que vai nos abrir uma ferida enorme que pode levar à gangrenar as instituições democráticas de nosso país.

A estratégia é clara, espalhar fragmentos de uma notícia, declaração, ou texto de impacto recortando qualquer aresta que possa ser prejudicial a sua causa e viralizar essa informação de forma randômica, porém profissionalmente, através de uma equipe de falsários que já conhecemos popularmente como "Gabinete do ódio".


Quando o próprio presidente da república propaga por exemplo que Tedros Adhanom, Diretor Geral da OMS (Organização Mundial da Saúde) apoia sua solicitação de fim do isolamento social como combate a pandemia de COVID 19, reproduzindo uma frase de um discurso deste.


O que o presidente do Brasil não disse foi que na íntegra da fala de Tedros, não havia uma solicitação para que o isolamento social fosse reduzido, na verdade, ele ressalta a importância de medidas emergenciais dos governos para socorrer as populações mais necessitadas que serão os mais afetados nessa crise pandêmica.


Assim disse o Diretor Geral da OMS. Notamos que o presidente Jair Bolsonaro, ou algum de seus assessores sem escrúpulos retirou da fala de Tedros apenas o que lhe servia e omitiu o verdadeiro sentido da informação. O nome dessa estratégia é "Cherry picking" em inglês, em português também a conhecemos como "evidencia suprimida", não passa de uma falácia que tem como objetivo construir um argumento citando dados reais que parecem confirmar sua opinião ou sua informação, mas que não se sustentam mediante uma simples pesquisa no Google. 


Olhar Unificado: Poderíamos usar Isaías 28:13 como principio de ...
Essa mesma falácia é largamente utilizada por pastores evangélicos e gurus espirituais mundo afora. Veremos abaixo um compilado de trechos bíblicos que justificam o dízimo a ser pago pelos fiéis:


Esses trechos do antigo testamento são geralmente turbinados com outras passagens celebres do nova testamento como:


Por outro lado, temos trechos bíblicos que poderiam ser usados lindamente para justificar a poligamia:


O sacrifício de animais:


O Incesto


Ou seja, olhando para os trechos recortados acima notamos que um livro sagrado é necessariamente uma fonte inesgotável para a prática de “Cherry picking”.


Nas redes sociais vemos uma enxurrada de memes, informações distorcidas por ideologias políticas exacerbadas que se utilizam desta mesma estratégia de desinformação, um grande exemplo dessa viralização é propagada pelo perfil oficial da deputada federal Bia Kicís do PSL (Partido pelo qual Bolsonaro se elegeu presidente).

Um post de 10 de abril de 2020 diz que a UNICAMP, salienta que:



Post - Bia Kicis pagina oficial do Facebook
O trecho indica uma postura cautelosa e cientifica sobre o uso de uma medicamento que ainda não demonstrou resultados comprovadamente benéficos sobre o uso deste medicamento, no entanto, a deputada Bia Kicis no ápice de sua capacidade de supressão de evidências usa essa passagem da nota de uma universidade pública do estado de São Paulo para atacar o governado João Dória, seu maior adversário político no momento.

“Centenas de milhares de vidas sendo salvas pela ministração de Hidroxicloroquina, associada a Azitromicina + Zinco, mas a UNICAMP, que pela aparência é contra o "golpe", uma universidade do Estado de São Paulo, ou seja, "Doriana", diz que não há comprovação da eficácia dessa medicação. Ora bolas! Se o efeito é benéfico nos seres humanos, qual a necessidade de esperarmos pelos testes em camundongos?

Você prefere tomar a medicação que está salvando ou esperar que a "ciência" comprove sua eficácia? Parece que a "ciência" não lê jornais, não assiste a bons telejornais e nem navega nas ondas da internet. Se assim o fizesse, nos pouparia de presenciarmos cenas deploráveis."

Ou seja, é muito claro que a deputada populista posta uma informação verdadeira de uma declaração altamente cientifica, portanto, embasada em evidencias, tudo que se espera de uma instituição laica, para criar um post tendenciosamente politizado.

E se você ler os comentários de seus seguidores nota que a tal pandemia virtual a qual me referi no início deste texto já atinge várias pessoas adultas e demonstra total eficácia. Podemos notar os sinais do contágio quando lemos algo da estatura (baixa) disso:

“Opinião deles...foda se eles..vamos usar..se necessário...” 
(comentário extraído do facebook oficial da deputada Bia Kicis referente ao post acima)

Como se a declaração da universidade fosse baseada na opinião dos pesquisadores e não nos resultados das pesquisas. Além disso, notamos que o apoio ao presidente que de forma “achista” defende o uso de um medicamento ainda na fase de testes é amplificada através de hashtags do tipo “bolsonaraestavacerto” “premionobelparabolsonarro”.

Creio que a internet é uma maravilha tecnológica que nos ajuda a buscar informações precisas e mais replicáveis para que as mesmas informações sejam confrontadas com outras e assim, conseguirmos criar uma cultura de pesquisa e desenvolvimento da ciência que pode nos ajudar a combater graves crises sanitárias e  outras.

No entanto, agora parafraseando Umberto Eco, a constatação que fica é a de que não estávamos preparados para tantos imbecis agindo ao mesmo tempo. É um tipo de sincronia da morte, da morte da verdade, da ciência e do bom senso. Caso não consigamos controlar essa pandemia de desinformação, creio que tempos nublados nos assombrarão novamente.

Como já havia dito antes em outra postagem neste mesmo blog; no final, quem nos socorrerá das epidemias e das mazelas impostas pelo autoritarismo será a ciência através de seus erros e acertos amparada pela prudência e pelo bom senso. Sempre será assim, um eficaz cirurgião nunca é exaltado pelos anos de estudo e apuramento de sua técnica, quando salva a vida de um doente agonizante, no máximo como um instrumento de deus que através das orações alheias curou o doente. E assim caminha nossa pátria, sendo desfigurada pelo ódio que aos olhos de um guru espiritual é "amor", demonstrando a cegueira moral dessa nação controlada por imbecis virais diante das telas de seus computadores de última geração.


Pesquisa:





André Stanley é escritor e professor de História, Inglês e Espanhol, autor do livro "O Cadáver", editor dos blogs: (Blog do André Stanley, Stanley Personal Teacher). Colaborador do site especializado em Heavy Metal Whiplash. Foi um dos membros fundadores da banda de Heavy Metal mineira Seven Keys. Também é fotógrafo e artista digital.



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