As aventuras de Pi é uma grata surpresa em meio a tantos filmes de vampiros - até mesmo de presidentes caçadores de vampiros. Esse filme a se julgar pelo absurdo da capa e dá sinopse que se lê não parece tão promissor, admito que refutei várias vezes antes de decidir assisti-lo Era uma sugestão constante de alguns amigos. Amigos esses que não julgava ingênuos o bastante para me indicar um filme de fantasia adolescente como primeiramente tive a impressão.
O filme tecnicamente é muito bom, uma produção muito avançada e bons efeitos especiais. Mas o grande triunfo do filme é exatamente seu enredo cheio de simbolismos que te fazem repensar em todas as cenas após o término do filme.
Foi baseado em um romance canadense escrito pelo então desconhecido Yan Martel, que por sua vez admitiu ter tido a ideia de escrever o livro depois de ler uma resenha do livro (Max and the Cats) escrito pelo brasileiro Macyr Scliar – mas isso é outra história. Não li o livro e creio que se o visse em uma livraria dificilmente me chamaria atenção, mas creio que vale a pena Lê-lo antes pelo fato da quantidade bem dosado de simbolismo contido no filme.
No entanto no que diz respeito ao filme creio que foi uma grande adaptação para o cinema, julgando a força do roteiro.
O protagonista do filme chamado de PI reconta sua aventura a um escritor que procura uma boa história para um livro. A história de Pi relata um naufrágio que teria ele sofrido quando ainda era bem jovem. O pai de Pi se viu pressionado politicamente e incapaz de sustentar seu zoológico decidindo então embarcar seus animais em um navio e com sua família partiram para o Canadá. O Navio foi surpreendido por uma tempestade e Pi conseguindo se salvar consegue adentrar em um barco. O grande problema é que ele não era o único naquele pequeno barco. Uma zebra com a pata quebrada uma orangotango fêmea e uma Hiena também dividiam o barco com Pi. A hiena ataca a zebra e a orangotango matando-os. Ficando Pi a deriva,mas de repente um outro animal que permanecera escondido em uma cobertura no barco age e mata a hiena. Esse personagem é tigre Richard Parker a grande atração do zoológico do pai de Pi.
Essa convivência como tigre em um minúsculo barco é a grande simbologia por trás do filme. Pi passa a negociar com o tigre seu território, essa besta selvagem não facilita as coisas para Pi, que passa o tempo todo com medo de ser atacado pelo animal. Quando os dois já se encontram em uma situação de total debilitação física chegam a uma ilha. Trata-se de uma pequena ilha inabitada onde tudo parece ser comestível. Pi se alimenta de suas raízes e se recupera.enquanto isso o tigre Richard Parker devora alguns suricatos que habitavam a ilha aos milhões.ou seja uma ilha salvadora. No entanto Já na primeira noite Pi nota que a ilha tinha uma peculiaridade. Enquanto durante o dia a ilha tem todos os atributos de algo paradisíaco,durante a noite havia uma inversão de polaridades. Toda a água e todo o solo daquela ilha se tornava ácido e o único lugar seguro para ficar nesse período era encima das arvores. Richard Parker corria para buscar abrigo no barco durante a noite enquanto Pi e os milhões de suricatos procuravam as arvores para se refugiar. Pi notou que se continuasse ali seria consumido pela ilha,decidiu então que deveria partir e levou com ele alguns suricatos para se alimentar juntamente com o tigre.
Depois de 227 dias em alto mar seu barco chega a uma praia no México. Nesse momento o tigre sai do barco e se embrenha na mata deixando Pi para sempre sem nem mesmo olhar para trás.
Essa é considerada uma sena chave na história. Pi se sente traído pelo tigre com quem conviveu todo aquele difícil período e de certa forma foi a sua razão de estar vivo. Ele partiu sem olhar para trás, e depois nunca mais o viu.
O escritor canadense que ouve o relato de Pi ainda não muito convencido questiona Pi a respeito do desfecho da História afinal lhe haviam dito que a história de Pi iria fazê-lo acreditar em Deus, e até então sua história não havia nada que o levasse a essa direção. Pi então diz que quando as autoridades japonesas que foram entrevista-lo para fazer em um relatório a respeito do acidente,eles também não acreditaram,foi então que Pi conta a eles uma outra história. Nessa história Pi relata que ele consegue sair do navio com o barco e estava com ele o cozinheiro do navio-que por sinal era uma pessoa quase demente, um chinês que havia conhecido durante a viagem e sua mãe. O cozinheiro que fora retratado com total repudio por seu comportamento desprezível decide matar o chinês que estava ferido pois precisavam se alimentar, depois decide matar a sua própria mãe, Pi não viu outra opção a não ser matar o cozinheiro para que pudesse sobreviver. Só assim os japoneses colocaram crédito em seu relato. Agora tinham algo mais sólido e crível para relatarem a seus superiores.
Nesse momento é que Podemos notar que a história toda parece ter um sentido. O escritor intrigado pergunta então qual é a história verdadeira. Pi responde com uma outra pergunta. “qual história você gostou mais? Pi responde que a do tigre é a mais bela.
A grande simbologia por traz disso tudo é que Pi criou uma alegoria para que pudesse viver em paz com sua consciência depois de ter sido obrigado a cometer algumas atrocidades. Podemos notar claramente que os animais no barco junto com Pi eram representações de sua mãe – a orangotango, do chinês que estava ferido – a zebra e do cozinheiro imbecil – a hiena – que por sua vez matou o chinês e sua mão e se não fosse a intervenção do tigre teria o matado também. Mas e o tigre quem é? O tigre é a grande personificação da história. O tigre Richard Parker , era justamente Pi, ou o lado negro de PI. Pi teve que liberar sua fera interior para lutar contra todas aquelas adversidades. Por isso no filme ele fica sempre exaltando a importância do tigre enquanto estava no barco, não fosse Richard Parker e sua bestialidade ele não estaria vivo.
E quando Richard Parker deixa Pi ao quando seu barco chega na praia do México, ele está dando adeus a esse lado selvagem que salvou sua vida. E talvez por isso sua decepção ao notara que não mais veria aquele que salvou sua vida. Acabara de chagar a civilização não mais precisaria do tigre. Seu lado negro sua sombra como diriam alguns psicólogos teria que ir embora pelo seu próprio bem. Enquanto em uma situação extremamente adversa temos que lançar mão desse nosso lado negro desse sombra da qual temos que controlar dentro de nós, em uma sociedade ela poderia nos destruir. Pi chegou ao extremo. Viu seu amigo de viagem morrer para que pudessem se alimentar de sua carne, depois viu sua própria mãe ser morta pelas mãos de um déspota que certamente. Essa situação libertou a besta que havia em Pi, e usou toda sua destrutividade natural - pois tigres são predadores natos - para matar o assassino de sua mãe é só assim ser capaz de sobreviver.
O relato que parece ser a história real, envolve uma faceta muito extrema do comportamento humano do qual Pi lançou mão para se salvar, não é uma história que alguém contaria com orgulho a alguém e Pi não viveria em paz consigo mesmo caso não criasse a alegoria do tigre para poder assim ver com seus próprios olhos como um espectador – como o espectador do filme- todos os pesares que teve que passar. Seria uma vida insuportável por isso Pi preferia contar a história do tigre que parecia mais nobre.
Mas onde está a moral dessa história quando levamos em conta o aspecto religioso que aparece desde o inicio do filme, nos diálogos que Pi tem com o escritor canadense?
Penso eu que a religião não precisa de uma explicação. Ela não precisa de uma comprovação para que possa ser de alguma utilidade na vida de uma pessoa. A questão talvez seja se isso –a religião - pode me salvar pode me manter longe do meu lado sombrio. Ficar longe daquilo que pode me destruir. Ou seja para o escritor que estava descrente em Deus aquela alegoria foi definida como uma história contável e poderia servir de exemplo para outras pessoas que poderiam se encontrar na mesma situação de Pi. No extremo da sobrevivência humana. Portanto a pergunta não deveria ser: “Existe um Deus?”, mas sim: ”Existe uma aplicabilidade dessas histórias fantásticas - e porque não fantasiosas - na nossa vida?” isso sim é que é relevante para esse enredo. No entanto continua um mistério. Qual o papel da primeira ilha que Pi chegou antes de chegar ao México.
Chego a pensar que aquela ilha fantástica que se alimentava daqueles que ali chegavam. Pois Pi havia descoberto um dente humano dentre de uma flor de lótus que o fez supor que aquela ilha iria também devorá-lo com o avia feito com o dano daquele dente. Talvez essa ilha seja uma metáfora para a própria religião. Ela se apresenta a nós como uma fortaleza segura e que nãos trás muita segurança. Lembre-se que as raízes eram comestíveis todos os poços do interior da ilha eram de águas frescas e potáveis, Richard Parker podia comer quantos suricatos quisesse, pois ali havia milhões. Isso durante o dia. Podemos notar que Todas as religiões são bem apresentáveis e que em momentos de angustia extrema não notamos que quando a noite chega temos que correr para as arvores, pois somente ali se está seguro. O que representam as arvores naquela ilha?Claramente aqueles que trazem essa segurança aos seus fiéis.
Os braços de seu deus representados por sues sacerdotes. As arvores eram os pastores, padres e gurus religiosos que oferecia um paraíso segura na terra, mas em troca deveriam segui-los cegamente sem perguntar o porquê da terra se tornar acida durante a noite. Se quisessem segurança somente encontrariam nos braços desses seus líderes espirituais.
Por isso Pi decidiu partir da ilha. Naquele lugar ele seria consumido caso não estivesse sustentado pelas árvores.
Creio que esse filme não tão ingênuo e simples como pode parecer. Assistam e tentem fazer suas interpretações pessoais, pois essa parábola pode representar muita coisa para mentes pensantes.
Read this article in English Click here
André Stanley alcunha de André Luiz Ribeiro é professor e escritor; autor do livro “O Cadáver” (Editora Multifoco – 2013); É membro efetivo da Asso. Dos Historiadores e pesquisadores dos Sertões do Jacuhy desde 2004. Atua hoje como professor e pesquisador de História Cultural. Também leciona língua inglesa, idioma que domina desde a adolescência, Administra e escreve para os blogs: Blog do André Stanley (blogdoandrestanley.blogspot.com) Sobre História, política, arte, religião, humor e assuntos diversos e Stanley Personal Teacher (stanleypersonalteacher.blogspot.com) onde da dicas de Inglês e posta exercícios para todos os níveis.
Nenhum comentário:
Postar um comentário