Alunos de escola de inglês fazendo atividade relacionada ao Halloween. |
De
uma festa pagã comemorada basicamente nas ilhas britânicas, em especial na
Irlanda, o “Halloween” se tornou no século XX uma festa comum em todo o mundo,
ou pelo menos nos países que se abriram para o que se chama comumente de
“ocidentalização” da cultura.
Os
Europeus mais românticos podem atribuir as comemorações de “Halloween” como
sendo proveniente de suas origens pagãs, e até certo ponto assim o é, para os
camponeses nas vilas mais remotas da Europa que ainda acendem uma vela no dia
31 de outubro para espantar os maus espíritos. No entanto, o “Halloween”
praticado nos grandes centros urbanos europeus hoje possui os mesmos elementos
que se originaram na América do Norte, como as brincadeiras infantis de “Trick or Treat”( gostosuras ou travessuras) e as abóboras sorridentes.
Não se sabe porquê em Portugal não é utilizado o termo “Halloween” sendo esta
festa conhecida, assim como fora no Brasil, por Dia das Bruxas. No entanto, o termo Halloween já hoje em dia largamente utilizado Brasil afora.
Como podemos notar a indústria cultural norte-americana criou um padrão comum
para as comemorações do “Halloween” em âmbito mundial.
A prática do “Halloween” no Brasil está vinculada diretamente à iniciativa dos
cursos de língua inglesa em familiarizar os alunos brasileiros com a cultura e
as tradições que envolvem o idioma em estudo. Portanto, o “Halloween” foi
introduzido no país como atividade pedagógica complementar nesses tipos de
escola. Uma espécie de imersão cultural.
De forma
geral, esta prática só é evidente nas escolas particulares de idiomas, mas pode
ser observada com uma frequência cada vez maior também no ensino público
através da iniciativa de professores de inglês.
Por outro lado, o “Halloween” sofre grande pressão de tendências nacionalistas
dos alunos que já buscam criar uma opinião própria ou simplesmente queiram tumultuar
a aula. No entanto, a maior incidência de casos de resistência ao “Halloween”
ocorre por parte de pais evangélicos. Há casos de pais protestantes que proíbem
os filhos de participarem das comemorações de “Halloween” organizados pelos
professores.
A comemoração do “Halloween” em uma cidade como Guaxupé por exemplo, no
interior de Minas Gerais, é parte de um processo que envolve uma série de
indagações que nos leva a ter que analisar uma série de terminologias que estão
muito em voga na nossa sociedade atual, como globalização, imperialismo,
multiculturalismo, dentre outras. Que tipo de evidências as manifestações
relatadas acima nos traz? Octavio Ianni nos mostra que:
“Na maioria dos países da América Latina, o conteúdo dos meios de
comunicação em massa, isto é da indústria cultural, é amplamente produzido nos
Estados Unidos ou influenciados pelos programas, agências e empresas de origem
norte-americana”
Ou seja, as nações imperialistas, se utilizam de meios diversos para expandir
sua cultura nos países periféricos, e foram estes meios que nos trouxeram a
comemoração do “Halloween” que de alguma forma nos dá uma sensação de
modernidade enquanto nossas culturas populares cada vez mais assumem um papel
secundário. Será essa uma evidência da “sociedade global” que se constrói a
nosso redor?
O que parece um tanto desfocado e até mesmo um tanto anacrônico é a cruzada
“Anti-Halloween” levada a cabo por políticos nacionalistas. Aldo Rebelo do PC
do B propôs em 2004 a instituição do “Dia do Saci” no Brasil, a ser comemorada
no dia 31 de outubro (dia do Halloween – justamente como contraponto à essa
comemoração). Atitude que se analisada dentro do âmbito do processo de
globalização em que o mundo chegou hoje, chega ser no mínimo ingênua.
Não
creio que podemos combater uma prática cultural globalizada através de um
simples decreto. Tentar barrar a globalização é como tentar tapar a nascente de
um rio com as mãos.
Manifestações como estas abordadas acima quase sempre de cunho nacionalista ou
regionalista, muitas vezes pecam pela falta de critérios críticos na abordagem
do “Halloween” como prática cultural. O “Halloween” é tido pelos adeptos de um
nacionalismo exacerbado, como sendo uma imposição do imperialismo
norte-americano, o que a meu ver parece uma afirmação inegável.
O
que me parece um tanto forçado, no entanto, é demonizar uma manifestação
cultural milenar taxando-a como protagonista da destruição das culturas
regionais, o que para tal é necessário que se esqueça de todo o processo
histórico que a formou, deixando como fundamento crítico apenas os aspectos
desta manifestação que surgiram já em um mundo globalizado.
Como se o
“Halloween” tivesse surgido em nossos tempos. Não vejo problema em ver nossas
crianças comemorarem o “Halloween”. O que me preocupa é a falta de uma
abordagem crítica do processo que tornou essa prática tão popular por aqui.
André Stanley é escritor e professor de História, Inglês e Espanhol, autor do livro "O Cadáver", editor dos blogs: (Blog do André Stanley, Stanley Personal Teacher). Colaborador do site especializado em Heavy Metal Whiplash. Foi um dos membros fundadores da banda de Heavy Metal mineira Seven Keys. Também é fotógrafo e artista digital.
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