domingo, 25 de agosto de 2013

Crianças Assassinas – Dois casos de psicopatia infantil







Casos de crianças assassinas são raros e por isso quando nos deparamos com um no noticiário, isso parece muito mais absurdo do que realmente é. A polícia paulista está convicta que um garoto de 13 anos foi o responsável por uma chacina familiar de proporções únicas. Mas o caso Pesseghini pode reabrir a discutição da possibilidade da psicopatia infantil. Eu, desde o primeiro momento, sempre achei improvável que um garoto de 13 anos pudesse ser o protagonista de tal feito, matar pai e mãe e ainda duas tias avós. No entanto, apesar de improvável não pode ser tido como impossível. Casos de crianças homicidas ocorrem vez por outra em todos os cantos do mundo. Creio que a psicopatia é uma condição difícil de detectar, ainda mais quando o indivíduo é jovem demais para que possamos descartar qualquer eventual rebeldia adolescente que possa estar em vigor no psiquismo de uma pessoa.Vamos estudar dois casos emblemáticos de crianças psicopatas que podem nos dar uma ideia sobre como funciona o psiquismo de uma criança.

O Caso Beth Thomas




Lembro que um dia, pelas minhas navegadas na internet, me deparei com um documentário americano que sem dúvida pode perfeitamente ilustrar essa ideia de que uma criança pode sim, desenvolver uma psicopatia em sua mais sublime infância. “Crianças são seres inocentes sem preconceitos”, esse jargão foi por muito tempo utilizado por vários profissionais pedagogos ou psicólogos de diversos ramos do saber até que se tornou um lugar comum na cultura popular. Mas, a criança assim como o adulto é produto de sua condição neuropsíquica somada ao meio em que vive e se desenvolve.

O documentário em questão conta a trajetória de uma bela garotinha de olhos azuis chamada Beth Thomas. Para uma pessoa que não domina o inglês e assiste o documentário sem legendas, soaria como um vídeo caseiro de uma doce criancinha americana dizendo coisas banais. O diferencial está exatamente no vocabulário aguçado da menina e na série de perguntas feitas pelo homem que a entrevista. O documentário foi feito com vídeos gravados pelo terapeuta Ken Magid.

Magid questiona a pobre garotinha sobre uma faca que havia sumido. “– uma grande e pontuda?” – diz a menina.

- o que você ia fazer com a faca, Beth? – pergunta então o terapeuta sem demonstrar qualquer tipo de alteração de humor.


"Matar o John – seu irmãozinho ainda um bebê – mamãe e papai. Diz a garota também fria e detalhista. Quando o documentário foi exibido na televisão americana em 1989, muitos profissionais que trabalhavam com crianças vítimas de abusos criticaram a HBO – produtora do documentário – por estar fazendo sensacionalismo com o assunto.


O documentário mostra ainda um resumo dos fatos envolvendo a criança. Beth Thomas perdeu sua mãe quando era bebê.  Foi deixada sob os cuidados de uma instituição para adoção juntamente com seu irmão mais novo. Ambos foram adotados por um casal que não podia ter filhos. As duas crianças aparentemente saudáveis receberam todo carinho necessário para proporcionar um relacionamento normal entre pais e filhos, mas o que o casal não esperava era enfrentar situações impensáveis que chegaram ao extremo de estarem sob risco de vida por conta do comportamento da filha adotiva.


Diariamente Beth era pega manipulando sua genitália.
E as masturbações ocorriam até mesmo em locais
públicos o que causava grandes transtornos aos pais.



Segundo a mãe adotiva, Beth tinha um comportamento muito incomum para uma criança de 6 anos. Diariamente Beth era pega manipulando sua genitália. E as masturbações ocorriam até mesmo em locais públicos o que causava grandes transtornos aos pais. Beth molestava seu irmão sexualmente, beliscando seu pênis e uma vez foi pega pela mãe, que segundo a própria filha havia puxado o pênis do irmão e enfiado o dedo em seu anus. O pai adotivo de Beth conta a respeito de um sonho ruim onde ela relatava que um homem caia nela e a machucava com uma parte dele próprio. O terapeuta pede a Beth que desenhe para ele o sonho que tinha com seu pari verdadeiro. Beth fez desenhos aterradores onde seu pai a violentava até que ela sangrasse. Dois meses depois da adoção descobriram que a mãe de Beth morrerá quando ela tinha 1 ano de idade e que o pai biológico havia abusado sexualmente de ambos os bebes. Isso com certeza havia causado danos emocionais severos nas crianças.




Agora vivia feliz e respeitava
todos seus familiares

e também seus animais de

estimação que

outrora eram visto por ela

como brinquedos

cujo objetivo eram ser mortos

em suas mãozinhas de criança.



Procuraram ajuda da terapeuta Connell Watkins, que diagnosticou a garota como tendo RAD – sigla em inglês para Desordem de Apego Reativa. É um transtorno mental onde o individuo é incapaz de formar juízo de valores. RAD, portanto é um termo técnico utilizado para não rotular uma criança dcomo psicopata, no entanto, nada mais é do que uma psicopatia infantil. A Situação era tão desesperadora que a terapeuta tirou Beth da casa dos pais e a levou para sua própria casa para tratá-la. Atkins tinha em seu currículo alguns casos de sucesso na reversão do comportamento inadequado de crianças. Incluindo crianças de 9 anos de idade que cometeram assassinato. O documentário mostra a recuperação de Beth, que passou a se comportar como qualquer criança de sua idade. Começa a frequentar a igreja de sua comunidade, e até mesmo a cantar no coral. Agora vivia feliz e respeitava todos seus familiares e também seus animais de estimação que outrora eram visto por ela como brinquedos cujo objetivo eram ser mortos em suas mãozinhas de criança.


O documentário que foi ao ar pela HBO em 1990 termina mostrando o progresso de Beth. E parece que a terapia pela qual foi submetida realmente foi bem sucedida, pois Beth Thomas acabou se tornando uma mulher emocionalmente sociável e fazendo uma pesquisa rápida pela internet foi possível descobrir que ela se formou em enfermagem e atua na área de saúde desde então. Beth foi adotada uma segunda vez por uma terapeuta que atuava na clinica de Atkins. Beth e sua mãe adotiva Nancy Thomas abriram uma clinica para cuidar de crianças que sofriam com distúrbios iguais aos de Beth, que lançou o livro Dandelion on My Pillow, Butcher Knife Beneath (Dente de leão no travesseiro, Faca de açougueiro debaixo).






Um desfecho trágico ainda ligado à algumas personagens dessa história viria a acontecer em 2000 quando uma garota de 10 anos foi morta durante um procedimento terapêutico aplicado na clinica de Connell Atkins chamado “Rebirthing” – renascimento – que consistia em enrolar uma criança em um cobertor para que ela pudesse reviver um novo nascimento e o cobertor representava o útero materno. Apesar dos pedidos desesperados da garoa pare que parecem com aquilo, pois não conseguia respirar, os terapeutas continuaram o procedimento. Candace Newmaker de 10 anos morreu no dia seguinte no hospital. Connel Atkins foi condenada por homicídio assim como as terapeutas que trabalhavam nesse procedimento e os pais adotivos da garota Candice Newmaker que segundo a autópsia morreu sufocada. O caso Newmaker gerou comoção nacional e foi responsável pela criação da “Candace Law” – lei Candice – contra as terapias com crianças supostamente com distúrbios de apego.


O caso Mary Bel

Mary Bell - A homicida mais jovem da história

Outro caso pode ajudar a ilustras melhor o perfil psicológico de uma criança abusada sexualmente. Em 1968 dois garotos foram mortos de forma brutal em New Castle na Inglaterra. Houve uma diferença de dois meses entre a ocorrência de cada um dos homicídios, levando a crer que se tratava do mesmo assassino. Na verdade, foi descoberto para espanto de todos, que se tratava de uma assassina. Mary Bell uma garota de 11 anos que morava em um bairro pobre de New Castle, próximo de onde os assassinatos ocorreram.


Norma Bell - amiga e co-autora
do assassinato de Brian Howe
Mary Bell foi em sua época a mais jovem homicida da história. Ela ainda não havia completado 11 anos de idade quando estrangulou Martin Brown até a morte. Ele era um garoto de 4 anos de sua vizinhança. Dois meses depois com ajuda de sua amiga Norma Bell – que apesar do nome não tinha nenhum parentesco – levaram um garoto de 3 anos de nome Brian Howe para um terreno baldio e também o estrangulou até a morte, além disso ainda usou uma tesoura para marcar as pernas do garoto e fazer uma letra “M” em seu abdome. Não foi difícil para a policia chegar a Mary Bell. Filha de Betty McCrickett, uma prostituta que tinha reputação de praticar sadomasoquismo com seus clientes, e deixava Mary na rua enquanto os atendia em casa. Isso quando não se utilizava da própria filha para prática de seus joguinhos eróticos. Segundo consta Mary foi sexualmente abusada com uma certa freqüência dos 4 aos 8 anos.

Martin Brown de 4 anos - primeira vítima de Bell

O comportamento da garota Mary Bell já era conhecido. Antes dos assassinatos houveram vários casos de crianças que relataram ter sido atacadas por Mary que tentara estrangulá-las. Mary tinha personalidade forte e dominadora. No dia de seu aniversário de 11 anos um dia depois que havia assassinado o garoto Martin Brown, tentou estrangular uma amiga de escola, que se não fosse a intervenção do pai da garota atacada, que a tirou as bofetadas algo pior teria acontecido.


Brian Howe de 3 anos assassinado
por Mary Bell com ajuda de sua amiga Norma Bell


Mary havia desenvolvido um comportamento bem sádico e segundo consta, foi até a casa de Martin Brown dias depois de tê-lo matado e pediu a sua mãe para vê-lo. A mãe de Martin disse que o menino estava morto e Mary disse: “Eu seu que ele está morto, só queria ver ele no caixão”.

Mary e sua amiga Norma cometeram atos de vandalismo em uma creche deixando recados anotados em folhas de cadernos que diziam:



“I murder so THAT I may come back” 
"Eu mato para que eu possa voltar."


“fuck off we murder watch out Fanny and Faggot” 

“Foda-se nós matamos cuidado fanny e Faggot”

“we did murder Martain brown Fuck of you Bastard” 

“Nós realmente matamos Martin Brown foda-se seus bastardos”






Uma das mensagens recolhidas
pela policia


Esses dizeres revelam a personalidade conflitante de uma criança perturbada. Mary foi condenada em 17 de dezembro de 1968 depois de dias de julgamento. Devido a exclusividade do caso, ele teve comoção mundial e especificamente na Inglaterra foi um divisor de águas na legislação do país. Nunca tiveram que condenar alguém tão jovem por duplo infanticídio. Mary cumpriu 12 anos de sua sentença e passou por várias terapias e avaliações psicológicas. Em 1977 Mary Bell fugiu do presídio e, segundo ela, perdeu sua virgindade. Foi recapturada logo em seguida. Em 1980 ela foi liberada. Tinha então 23 anos e um novo nome, pois tinha a proteção da lei para ficar no anonimato e manter sua integridade. Os familiares das vitimas vem lutando desde então para que a justiça revogue essa decisão. Tal lei batizada de “Ordem Mary Bell” por conta da própria da proteção e anonimato a todas a crianças envolvidas em procedimentos legais.


Mary Bell foi entrevistada em 2007 pela jornalista Gitta Sereny que resultou no livro “Gritos no vazio”. Sabe-se que o dinheiro rendeu um bom dinheiro para Bell o que gera muita controvérsia na sociedade britânica, principalmente entre os familiares das vítimas.


Bell logo após ser recapturada pela policia
1977
Esses dois casos ilustram algo que sempre vem sendo razão de discussão entre psicólogos de todos os setores. Será a psicopatia uma predisposição genética? Ou ela surge no contexto familiar e social do individuo? Temos aqui dois casos de psicopatia na infância que até o presente momento parece ter sido revertidas com sucesso na vida adulta dos individuos que as portava. Tanto Beth Thomas quanto Mary Bell – segundo consta – se tornaram adultos emocionalmente saudáveis depois da intervenção terapêutica. A questão é, essas duas mulheres estão vivendo suas vidas tendo que domar seus instintos assassinos todo santo dia, ou elas realmente desenvolveram valores éticos e morais que as tornam seres sociáveis? Todos os psicopatas se tratados na infância podem reverter sua psicopatia? Acho que terminei os artigos com muito mais perguntas do que respostas, mas creio que são as perguntas certas que nos levam a algum lugar.





Assista documentário sobre o caso Mary Bell: https://www.youtube.com/watch?v=moFhGzE_xRI
Assista o documentário sobre Beth Thomas: https://www.youtube.com/watch?v=g2-Re_Fl_L4


Fontes:


André Stanley é escritor e professor de História, Inglês e Espanhol, autor do livro "O Cadáver", editor dos blogs: (Blog do André Stanley, Stanley Personal Teacher). Colaborador do site especializado em Heavy Metal Whiplash. Foi um dos membros fundadores da banda de Heavy Metal mineira Seven Keys. Também é fotógrafo e artista digital.

Um comentário:

  1. Casos fodas e tensos. Cada caso é unico, acho complicado achar um padrão pra definir se esse instinto nasce com a pessoa...

    ResponderExcluir

Postagens Populares